Ele tem três olhos, 1,80 m de altura e pesa 150 quilos de puro “músculo” tecnológico. Munido de seis rodas flexíveis, chips e potentes sensores computadorizados, treina suas habilidades no solo arenoso e rochoso do Parque Nacional del Teide de Tenerife, na Espanha. Todos esses equipamentos e a maratona de treinamentos são para cumprir uma importante missão: ele pisará Marte, o quarto planeta do Sistema Solar, e finalmente desvendará os mistérios da existência de vida nesse ponto cósmico. O nome técnico desse maratonista que é um show de tecnologia é Robô Cientista Autônomo. Mas fiquemos com o simpático apelido que os astrônomos lhe deram, ou seja: Bridget. Para ter uma idéia de sua importância, ele representa uma cartada superior a US$ 900 milhões dada pela Agência Espacial Européia com olhos na conquista de Marte – e, por tabela, com o intuito de desbancar a sua maior concorrente, a famosa Agência Espacial Americana (Nasa).

“Ele não é como os outros robôs”, diz
Mike Healy, um dos principais responsáveis por sua construção. “O Bridget carrega o seu laboratório próprio e isso lhe permite analisar sozinho e imediatamente as diferentes amostras do solo marciano.” Em outras palavras, o que o cientista Healy faz é apontar o grande diferencial de seu jipe robotizado – a plena autonomia. Diferentemente das máquinas enviadas a Marte pela Nasa em 2004 (a Spirit e a Opportunity), o Bridget não dependerá do bom funcionamento de sondas que orbitam no espaço para repassar aos pesquisadores na Terra as imagens do material coletado. Fará esse serviço sozinho. Um braço robótico se encarregará de apanhar amostras de rochas e “engoli-las” para o interior de seu minilaboratório. Concluídas as análises, os resultados serão enviados por satélites para os cientistas – e será o maior volume e a maior qualidade de informações reunidas até hoje. Uma comparação: o Bridget cobrirá em análises dez quilômetros de solo marciano em quatro meses, a mesma distância que os robôs americanos Spirit e Opportunity levaram dois anos para completar. Essa nova menina-dos-olhos dos astrônomos possui também um equipamento elétrico para perfurar o solo e coletar amostras de até dois metros de profundidade – nunca nada foi tão a fundo no planeta vermelho com uma velocidade de perfuração de um centímetro a cada seis segundos. Assim, os pesquisadores europeus conhecerão elementos que podem ter sido destruídos na superfície de Marte pela ação da rigorosa atmosfera do planeta. “Determinaremos se existiu ou se existe vida em Marte”, declarou em nota oficial a Agência Espacial Européia.

Havia um desafio a ser vencido: como proteger Bridget do congelante frio
das noites marcianas que chega a
70 graus celsius negativos? Para
isso, foi desenvolvida uma armadura
em formato de concha feita de fibras
de carbono que funcionam como
pele. E quanto ao escuro da noite?
Como o robô não precisará descansar
e trabalhará diuturnamente, também foram colocados nele cinco painéis solares recobertos por uma camada de vidro para a conversão de energia solar. Esses painéis recarregarão as 42 baterias de íons de lítio durante o dia, habilitando o Bridget a conduzir os seus experimentos à noite – essas baterias possuem ainda um sistema de captação de calor para auxiliar na manutenção da temperatura do robô, evitando a danificação dos componentes eletrônicos.

É difícil, muito difícil cientificamente, explorar Marte, e os desafios se sucedem.
Pode-se dizer que o maior deles estará logo no começo da missão – ou seja, o momento do pouso. Em 2003, o Beagle 2, um robô feito também pelos europeus, desapareceu após se separar da sonda Mars Express – isso porque os cientistas eram incapazes de determinar o local e as condições de pouso após a separação. Para resolver essa dificuldade foi projetado então um sensor inteligente para acionar pára-quedas e airbags que irão amparar Bridget na instável e hostil atmosfera de Marte. A sua descida será, assim, suave e segura. Ele descerá como uma pena. Com data de lançamento prevista para 2011 (praticamente na próxima Copa do Mundo), esse robô faz parte da missão ExoMars do programa Aurora criado em 2001 para explorar o Sistema Solar e enviar em 2030 a primeira missão humana a Marte – um planeta que embala os sonhos de muitos cientistas de uma possível colonização. Em tempo: H. G. Wells, em 1898, escreveu o conto A guerra dos mundos, descrevendo a invasão da Terra por marcianos munidos de futuristas e poderosas armas. Mas são os terráqueos, no entanto, que não desistem de vasculhar Marte – e prova disso é que 37 missões, com maior ou menor sucesso, já foram executadas para a exploração desse planeta.