Um jardim permite muitas travessuras aos arquitetos paisagistas. Uma delas, mais exótica, é o trabalho de esculpir diferentes formas usando grama, plantas, folhas e ervas. Essa arte, chamada de topiaria, apareceu recentemente em todo o seu esplendor na escultura de uma mulher nua exibida na mais importante exposição de jardinagem em Londres. Um sucesso – a feira e a mulher curvilínea, talvez uma brincadeira com a obra clássica do pintor espanhol Goya, Maja desnuda (mulher desnuda), só que pós-moderna. No Brasil, essa arte antiga está presente nos jardins e avança em praças, imóveis e parques públicos. Nos Estados Unidos, o auge desta atividade vigorosa está no fantástico mundo da Disneyworld, o maior parque de diversões do planeta. Até o cinqüentão Mickey – e toda a sua turma – é representado em esculturas feitas de grama. Estão logo na entrada do Magic Kingdom e também fazem pose para fotos em frente da grande bola do Epcot Center. A criançada adora, os adultos se surpreendem.

A topiaria é uma técnica que
permite ornamentar os jardins,
dando contornos diversos a uma ou
mais plantas e possibilitando a criação
de formas redondas, triangulares, quadradas, desenhos de pessoas, objetos e de animais. No Brasil não é muito comum topiarias com formas de animais – existem com mais freqüência desenhos geométricos em grandes jardins e praças, feitos com plantas como buxinho, cedro, tuia áurea, azaléia e ficus. Em Monte Sião, Minas Gerais, existe a tradição das topiarias, mas é na cidade de Batatais, no interior de São Paulo, próxima a Ribeirão Preto, que a arte de fazer esculturas com ciprestes e outros vegetais se desenvolveu com maior intensidade. Desde 1930 a cidade vem esbanjando criatividade. Começou na praça Cônego Joaquim Alves com diversas figuras em forma de camelos, elefantes e girafas, pelas mãos do jardineiro Jorge Sadrim. Hoje, a arte sobrevive com o jardineiro Paulo Sérgio Bergamo de Lima, que trabalha na administração municipal, restaurando e enriquecendo a praça. Outro local importante é a cidade gaúcha de Gramado, que exibe a topiaria em meio ao charme de suas ruas floridas, o aconchego dos chalés e o requinte da gastronomia. A arte é encontrada aqui e ali, em geral na forma de animais, como as girafas que chamam tanta atenção quanto o shopping a céu aberto da cidade.

As plantas apropriadas para topiaria necessitam de poda a cada três ou quatro meses. Exceto os arbustos floríferos, que devem ser podados três meses após a época de floração e depois num intervalo de dois meses, para que não ocorra interferência em seu processo natural. Exige também o uso moderado de adubo. As árvores frutíferas precisam de cuidados especiais. E, no inverno, mais atenção ainda: as plantas costumam poupar suas energias para aparecer vigorosas na primavera. O tempo de duração para esculpir uma obra numa planta depende do tamanho e qualidade da obra pretendida, além de fatores para o desenvolvimento, como clima, boa adubação e irrigação. A planta demora cerca de dois anos para tomar a forma definida e exige o uso adequado das tesouras: elas devem ter tamanhos que variam de acordo com a espécie e o diâmetro dos galhos a ser trabalhados para facilitar o serviço. As tesouras grandes são utilizadas para podar galhos e fazer topiarias em plantas ornamentais. As pequenas, para cortar galhos e caules. O efeito final é muito bonito. A mulher nua da exposição de Londres encantou a todos – até a rainha Elizabeth, que passou por lá para conhecer os rumos da jardinagem na Inglaterra, uma profissão que exige estudo, talento e paciência. Tudo é permitido: a escultura da Mulher desnuda da exposição de Londres é cheirosa porque levou em sua receita ervas aromáticas.

A exposição em Londres é a prova de que a arte se renova com vigor. Mas é
antiga. Na verdade surgiu no Renascimento, em meados do século XV, quando despontou uma nova forma de pensamento no que diz respeito às artes, às
ciências, à literatura e à filosofia. Conseqüentemente, houve o renascimento
também dos jardins. Os países que mais expressaram esta renovação foram Itália, França e Inglaterra. Os jardins da época do Renascimento se inspiraram nos da Roma Antiga, que possuíam muitas estátuas e fontes monumentais. Esses jardins eram tidos como centros de retiro intelectual, onde sábios e artistas podiam trabalhar e discutir longe do calor e das moléstias do verão da cidade. A vegetação era considerada secundária e se caracterizava por receber cortes, adquirindo formas determinadas, conhecidas nos jardins romanos por topiarias. Em seguida esta mesma vegetação era distribuída pelos terraços e, no plano mais elevado do jardim, dominando a composição, se encontrava o palácio. Os vegetais mais utilizados na época foram o louro, o cipreste, o azinheiro e o pinheiro, entre outros vegetais característicos dos jardins italianos do Renascimento. O buxo era muito utilizado para as formas recortadas. Nestes trabalhos, a paisagem era desenhada com régua e compasso, caracterizando assim a simetria de linhas geométricas. A topiaria, enfim, possui raízes firmes.