Por incrível que pareça, a cena da foto ao lado se passa no Brasil. A criança, embrulhada em agasalhos de lã, se diverte em São Joaquim, Santa Catarina, um dos pontos mais frios do País. O inverno dos trópicos, em algumas cidades brasileiras, derruba radicalmente o nível dos termômetros e traz até mesmo uma boa quantidade de neve. A estação, aberta oficialmente por aqui às 9h26 da quarta-feira 21, será marcada por temperaturas mínimas inferiores às do ano passado. Em São Joaquim e na também catarinense Urubici, onde o frio atingiu impressionantes 18 graus negativos anos atrás, a expectativa atual é de neve espessa. Para quem admira e sabe apreciar esse cenários, não faltarão roteiros charmosos em todo o País. Entre as opções estão passeios bucólicos, pousadas românticas e refeições escoltadas por bebidas quentes e vinhos encorpados.

São Joaquim é um oásis no topo do Planalto Serrano Catarinense, a 1.720 metros de altitude. Neste período, a neve cobre os campos como um lençol branco. Considerada a cidade mais fria do Brasil, gera em suas terras a rara e deliciosa feijoa, uma espécie de goiaba serrana classificada entre as oito frutas mais exóticas do mundo. Kiwis, pêras e caquis também nascem em abundância. Entre as maravilhas desta região serrana destacam-se a Cascata do Pirata, com queda de 15 metros e o Snow Valley, e trilhas ladeadas de xaxins gigantes e cascatas de seis andares. Município do ponto mais alto do Sul do País, Urubici foi agraciado pela natureza com matas de araucárias, cachoeiras e cascatas. A cidade, a 167 quilômetros de Florianópolis, tem apenas dez mil habitantes, mas já é o local mais visitado da região serrana do Estado, ponto badalado de esportes ao ar livre e pesca de trutas. As 15 pousadas e hotéis da região oferecem generosas áreas verdes.

Se a atividade física for o objetivo da viagem, vale a pena dar uma olhada nos roteiros invernais criados por agências especializadas nas chamadas viagens ativas. De olho nos turistas que gostam de caminhar e pedalar, foram criados pacotes pela Estrada Real mineira, o caminho do ouro que há 300 anos ligava Minas Gerais a Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. A pé ou sobre duas rodas, passeia-se pelo centro histórico de Ouro Preto e pelas bucólicas trilhas ao redor das cidades históricas de Tiradentes e São João del Rey. Também em Minas Gerais, só que no extremo Sul do Estado, a charmosa e pequenina Gonçalves, com seus cinco mil habitantes, é um dos destinos mais interessantes deste inverno. Situada a 1.350 metros de altitude, em plena Serra da Mantiqueira, tem vida de povoado e a exuberância natural de um gigante. Nas noites mais frias, a temperatura cai abaixo de zero e, durante o dia, o sol ilumina os penhascos e esquenta as florestas de araucária e cachoeiras. A região é ideal para a prática de turismo rural, esportes radicais, cavalgadas e caminhadas.

Os paraísos do inverno tropical não se concentram apenas em Minas Gerais e em Santa Catarina. O Estado do Rio de Janeiro também oferece boas opções. Em cidades como Nova Friburgo, Resende, Teresópolis, Visconde de Mauá e Petrópolis, o jargão “Rio 40 graus”, feito para a capital, não faz sentido. A brisa fria sopra um ar perfumado e a mata acompanha o perfil dos morros que abrigam rios gelados e cristalinos. De paraíso hippie na década de 70, Visconde de Mauá transformou-se num refúgio serrano sofisticado, tomado por hotéis confortáveis e ótimos restaurantes. A estrada, que começa no quilômetro 311 da via Dutra, ainda é esburacada. Muitos visitantes e moradores acham que isso, na verdade, é positivo. Ajuda a preservar o local das invasões exageradas. De qualquer forma, as boas coisas da vida valem algum esforço. E não se pode negar: uma conversa ao calor da lareira, regada com uma taça de vinho, pode ser uma boa recompensa.