O videocassete e as filmadoras domésticas são as novas vítimas dos avanços da tecnologia digital. Os algozes dessa morte anunciada são os discos digitais de vídeo, os populares DVDs, e a nova geração de câmeras fotográficas que incluem entre seus recursos a capacidade para gravar sons e imagens em movimento. Mais práticas, com preços mais acessíveis e na maioria das vezes com melhor qualidade de imagem, esses equipamentos foram a principal vedete do mais importante evento de fotografia no País, a 10ª feira PhotoImageBrazil 2002, que aconteceu em São Paulo na semana passada. Se não bastasse isso, os números de lançamento de filmes em DVD, um dos mais eficientes termômetros da obsolescência programada dos eletrônicos, reforçam a idéia de que o vídeo está com os dias contados.
 

Em meio à imensa diversidade de modelos mostrados na feira de fotografia, pelo menos um traço comum: alta tecnologia em câmeras de manuseio simples e voltadas para o uso doméstico. Além de fotografar, uma câmera pouco maior do que um maço de cigarros é capaz de filmar, reproduzir músicas em formato digital mp3, incluir trechos de áudio para funcionar como legendas sonoras e armazenar mais de seis horas de imagens.

A campeã em extravagância é a Digibino, um binóculo fotográfico inspirado nos filmes de James Bond. A máquina da Pentax bate até cinco fotos por segundo, grava videoclipes e descarrega as imagens em computadores PC com Windows ou em Macintosh. A coreana Samsung mostrou que som e foto não se separam. O modelo Digimax 35 grava até três minutos de ação e reproduz músicas em formato mp3. A novidade da Kodak, a LS 420, prima pelo design e vem num estojo colorido que parece um porta-óculos. A aparência frágil esconde uma capacidade invejável. A máquina tem visor que permite selecionar as fotos do álbum digital e enviá-las por e-mail, automaticamente, sem se conectar a um computador.

Do Japão veio a maior novidade em armazenamento. A câmera lançada pela Fuji, a FinePix A202, tem cartão de memória com capacidade para armazenar 1 gigabyte, o que significa até 1.612 fotografias em alta resolução. Para quem valoriza a qualidade, a Sony F707 é um prato cheio. Vem com uma lente de grife, a alemã Carl Zeiss de 58 milímetros, tem opção de ajuste manual ou automático e permite retocar as imagens no visor da própria câmera, além de gravar vídeos e legendas sonoras. Seu problema é mesmo o preço, de R$ 5.900. Mesmo a câmera mais barata, a mini 300 da BenQ, de R$ 300, esnoba habilidade ao criar filminhos de até dois minutos que são enviados por e-mail. E funcionam.
Um dos entraves da fotografia digital é sua reprodução: não é tão simples transformá-la em papel para exibir num porta-retratos. Existem hoje no Brasil apenas 300 laboratórios para impressão digital. Por isso, a novidade da Canon, o modelo A100, foi uma das atrações na feira de fotografia. Por R$ 2.000, pode-se comprar a máquina com a impressora que imprime as fotos em papel fotográfico no tamanho 10×15 em poucos segundos, sem precisar do computador.

Assim como as impressoras digitais aumentam a comodidade das câmeras, os novos aparelhos de DVD enfim conseguem gravar programas de televisão, uma das derradeiras vantagens do videocassete. O único problema é que esses aparelhos ainda têm preço extorsivo. O modelo profissional da Philips, por exemplo, sai por R$ 5.900. Se eles ainda são caros, não se pode dizer o mesmo dos aparelhos tradicionais de DVD, cujos preços caíram pela metade. Os analistas de mercado avaliam que até 2007 a queda no preço vai atingir o mesmo patamar que o videocassete levou 20 anos para alcançar.

Ao longo do ano passado, os brasileiros compraram 650 mil aparelhos de DVD, 250 mil a mais do que no ano anterior. O crescimento mundial segue os mesmos passos e aponta para um crescimento anual de 62%. As locadoras de filme registram crescimento semelhante em locações e lançamentos, mas a diferença do acervo ainda é grande: há cerca de 20 mil títulos em VHS, contra 1,3 mil em DVD.

Mais um argumento para não jogar o videocassete no lixo. O cinéfilo paulista Fernando Macedo Soares e seu filho Vítor, por exemplo, não se desfizeram do antigo vídeo, apesar de ter em casa uma coleção com 800 filmes em formato DVD, boa parte em títulos infantis. “Os filmes em DVD oferecem informações que nunca apareceram nas fitas VHS”, afirma Soares. Seu recurso favorito é encontrar em questão de segundos exatamente a cena que procura. Soares mal pode esperar para comprar o novo DVD de Senhor dos anéis, que será lançado em novembro com um total de quatro discos, dois deles com cenas de bastidores, entrevistas e 30 minutos adicionais de filme. “É possível conduzir o enredo como se fosse um videogame”, brinca Soares.