O medo do goleiro diante do pênalti é o
título de um filme clássico do alemão Wim Wenders. Trata de amor, e não de futebol,
mas é a mesma coisa – é o olhar delicado
ao redor de um momento decisivo. A partir
das oitavas-de-final, os jogos da Copa
podem ir para a prorrogação e, se o empate persistir, às penalidades máximas (não há mais o gol de ouro na prorrogação). Um filósofo do futebol, o carioca Neném Prancha, dizia que o “pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”. Essa reverência já os levou à academia. Cientistas da Universidade de Greenwich, na Inglaterra, descobriram que um goleiro pode prever a direção da bola de acordo com o ângulo dos ombros e da perna de apoio do batedor. Outros dois especialistas em estatística da Universidade Ben-Gurion, de Israel, analisaram 286 penalidades máximas em campeonatos europeus. Descobriram que, a depender do canto aonde a bola chega, as chances de defesa são maiores ou menores – lá em cima, rente à trave, é quase impossível alcançar a pelota.

“Todos esses estudos são atraentes”, diz Paulo Guilherme, autor de um livro já clássico a respeito dos arqueiros, Goleiros – heróis e anti-heróis da camisa 1. “Mas na hora decisiva, o que vale mesmo é a intuição e a velha e boa malandragem.” Waldir Perez, titular de 1982, nunca escondeu esse recurso. “Sempre me adiantei, porque um juiz pode mandar voltar uma, duas vezes, mas não três”, diz. Waldir fez história na terra de Beckenbauer em 1981. Em um amistoso diante da Alemanha, defendeu um pênalti do lateral-esquerdo Paul Breitner, exímio batedor. Ao chegar ao hotel, o brasileiro foi aplaudido pelos hóspedes, talvez porque tenham percebido que ele, no avesso do longa de Wim Wenders, não teve medo – medo sentido por Baggio, o italiano que quase pôs a bola fora do Orange Bowl na final de 1994. Agora, a sorte pode estar nas mãos de Dida.