Começou. Seis candidatos, seis estilos, seis caminhos diferentes para chegar à Presidência da República. À frente nas pesquisas, o presidente Lula foi o último a dizer oficialmente que, sim, vai concorrer. A bordo do jato presidencial, com a vantagem da administrativa ao seu lado, sua campanha tem um orçamento prévio de R$ 30 milhões. No marketing, será apresentado como um candidato bem-humorado, cheio de esperanças no futuro e com uma sacola recheada de realizações. “A vida de um presidente da República, num país deste tamanho, é viajar”, disse Lula na terça-feira 20, explicando o que pretende fazer pelos próximos quatro meses. No seu encalço aparece o tucano Geraldo Alckmin, cujo partido também está reservando R$ 30 milhões para tentar convencer o eleitorado de que o Brasil precisa de um “choque de gestão” e de mais austeridade nos gastos públicos. “Vou virar o jogo quando começar a campanha na tevê”, repete Alckmin. Por enquanto, é ele o nome com mais chances de disputar o segundo turno com Lula. Um segundo turno que vai depender – e muito – do desempenho na corrida presidencial da senadora Heloísa Helena, candidata do PSOL. Dona de um balaio estimado em dez milhões de votos (ou 8% nas pesquisas), um discurso agressivo e uma fachada de mulher-coragem, seu plano é crescer em cima do voto de protesto, batendo-se praticamente contra tudo e contra todos. Se chegar próxima a 15%, força o segundo turno. Cristovam Buarque, do PDT, hoje com previsão de receber menos de dois milhões de votos, planeja arrecadar R$ dez milhões para tentar fugir da possibilidade de ser mero figurante. Há ainda dois candidatos nanicos, José Maria Eymael, do PSDC, e Luciano Bivar, do PSL. Com menos de 1% nas pesquisas, podem usar suas legendas como linhas auxiliares da oposição a Lula.

Embora os principais adversários falem o tempo todo em campanha propositiva, nenhum deles ainda deixou muito claro o que pretende fazer se ganhar a eleição. Não há ainda propostas de governo claramente definidas. Lula escalou seu assessor internacional Marco Aurélio Garcia para ser o coordenador do programa de governo – e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para elaborar um plano econômico diferente do antecessor Antônio Palocci. Como coordenador-geral da eleição, Lula designou o presidente do PT, Ricardo Berzoini. A máquina governamental será usada, algo que o instituto da reeleição lhe atribui. Lula só procura definir os artifícios para utilizar essa máquina nos limites da legislação. Criou uma rotina na qual passará a semana “inspecionando” obras (não pode, pela lei, inaugurá-las) e participando de comícios nos fins de semana. O Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, mostrou no final da semana que estará de olho nele. Uma decisão tomada na quarta-feira 21 proibiu que o governo concedesse agora os aumentos que pretendia para o funcionalismo público. “É preciso evitar que os governos distribuam eleitoralmente as suas bondades”, avisou o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello.

Na sexta-feira 16 e no sábado 17, ISTOÉ acompanhou de perto a campanha do segundo colocado Alckmin por quatro cidades: Americana, no interior de São Paulo,
e Rio Grande, Pelotas e Bagé, no Rio Grande do Sul. Um périplo que começou com uma retumbante vaia na Festa do Peão de Boiadeiro em Americana. Que continuou
na manhã seguinte com uma topada dolorosa em um móvel no quarto de hotel e
um atraso de mais de meia hora provocado por um motivo inusitado. O comandante do jatinho usado por Alckmin, Carlos Schnorr, esqueceu as chaves da aeronave na casa onde ficou hospedado. Situações capazes de exasperar um monge. Mas que Alckmin enfrentou com um estoicismo surpreendente, gastando horas no corpo a corpo com os eleitores. PSDB e PFL, porém, acham que há excesso de calma. O
que pode parecer falta de empolgação. Para tentar melhorar o desempenho, já começaram a ajustar o motor. Na segunda-feira 19, o presidente tucano, senador Tasso Jereissati (CE), convocou Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário da Presidência no governo FHC, para ajudar na coordenação da campanha. Sua
missão é evitar contratempos.

Em terceiro lugar nas pesquisas, a senadora Heloísa Helena, do PSOL, aparece como candidata-chave da disputa. Dona de um discurso radical e de uma imagem de inflexível, ela tem hoje 8% nas pesquisas. Se conseguir encostar nos 15%, provoca o segundo turno. Há quem ache que ela pode canalizar o voto de protesto e virar o azarão da eleição. Tanto radicalismo, no entanto, pode estreitar suas possibilidades. É no que aposta o senador Cristovam Buarque, do PDT. “Quero mostrar que a porta de entrada do Brasil no século XXI é a escola”, explica. “Mas é lógico que terei que fazer críticas ao Lula por ter se metido com coisas como o mensalão”, acrescenta.

Definidas as posições, a corrida se concentrará nesta semana na consolidação dos aliados. Com a proibição de showmícios, essa será uma campanha eletrônica. Ganhará, portanto, quem somar mais parceiros e, assim, ampliar seu tempo de tevê. Alckmin chegou a seu limite. Na quarta-feira 21, o PFL oficializou a parceria com o PSDB. Graças aos pefelistas, dos 25 minutos do programa eleitoral, o tucano terá 10min55seg. Lula, por enquanto, tem apenas a parceria do PRB de seu vice, José Alencar. Isso lhe garante apenas 8min11seg. O presidente corteja o PSB e o PCdoB, partidos que ainda farão suas convenções nesta semana. Se conseguir fechar a aliança, passa a ter 10min55seg. Na nova distribuição de tempo, restariam a Alckmin 9min42seg. Cristovam terá, entre 1min49seg e 2min12seg. Os demais candidatos terão menos de um minuto. “A tevê vai decidir a eleição este ano; a busca por mais tempo é fundamental”, avalia o cientista político Murilo Aragão. É sobre ela que vai se debruçar principalmente Lula nesta semana. Nessa tentativa, é possível que o vice-presidente José Alencar acabe perdendo seu posto para o deputado Eduardo Campos, do PSB, como companheiro de chapa do presidente. A resposta, nos próximos capítulos.