Já é tradição do mercado fonográfico entupir as prateleiras das lojas com séries caça-níqueis, a exemplo das famigeradas coletâneas concebidas sem o menor rigor e respeito pela trajetória do artista. Não é o caso, felizmente, do projeto Estréia, sob a coordenação do respeitado pesquisador Marcelo Fróes. Com o mote de trazer à luz o primeiro trabalho de nomes consagrados, a coleção de 30 discos nacionais e internacionais, há muito fora de catálogo – para não dizer inéditos no formato CD –, preserva as capas originais, sem omitir informações dos lançamentos. Todos passaram pelo processo de remasterização e, em alguns casos, trazem até faixas bônus, motivos suficientes para garantir a alguns dos álbuns um lugar
reservado nas discotecas. É o caso de Olhar brasileiro, de Eduardo
Dusek (hoje Dussek), disco de 1981, no qual o carioca surpreendeu
a MPB com seu cabaré-pop inteligente e escrachado. Cheio de pérolas como Nostradamus, Singapura e a marchinha de carnaval Folia no matagal, que virou sucesso na voz de Ney Matogrosso, Olhar brasileiro nunca havia saído em CD. Outras raridades são os trabalhos de
estréia de Taiguara, um tanto jazzístico; de Joyce, mergulhada na
bossa nova; e do Quinteto Violado, tecendo com brilho elementos da cultura nordestina. Entre os 15 títulos nacionais, aparecem também
Tim Maia, Os Mutantes, Build up, de Rita Lee, e Pérola negra, de Luiz Melodia – álbum indispensável, que reúne maravilhas como Estácio, holly Estácio, Pérola negra e Magrelinha –, antes encontrados nas lojas,
só que sem a recauchutagem da remasterização.

Entre os internacionais, o grande destaque vai para Fresh Cream, com o histórico grupo de rock Cream, reunindo as feras Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker. No repertório, blues clássicos, como Spoonful, de Willie Dixon, Four until late, de Robert Johnson, e Rollin’ and tumblin’, de Muddy Waters. Seguindo a mesma linha discoteca básica, With a little help from my friends, de Joe Cocker, remonta a um momento iluminado do rock. A canção-título, assinada por Lennon & McCartney e no original dos Beatles gravada por Ringo Starr, se transformou em ícone do lendário Festival de Woodstock, em 1969, quando Cocker mostrou ao mundo o poder da sua voz rouca. No disco, conta com a participação de Jimmy Page, do Led Zeppelin, que toca em cinco das dez faixas. Completando a coleção de obras-primas, Can’t buy a thrill, da banda nova-iorquina Steely Dan, exibe um pop sofisticado cunhado pelo tecladista Donald Fagen e pelo baixista Walter Becker. A sucessão de canções como Do it again e Only a fool would say that se mostra à prova de qualquer envelhecimento.