Na década de 1960, contestar era quase uma obrigação para os jovens. Romper os laços com a sociedade estabelecida fazia parte do processo de auto-afirmação de certos grupos sociais. Em arte, a moda era desqualificar a técnica acadêmica e dar a objetos do cotidiano o status de obras artísticas. Este movimento ficou conhecido como arte conceitual e as chamadas instalações tornaram-se febre. Um dos grupos que mais fizeram fama no circuito nova-iorquino chamava-se Fluxus. Fundado pelo lituano George Maciunas, a turma congregava, entre outros, a japonesa Yoko Ono – mais conhecida como a viúva de John Lennon – e o coreano Nam June Paik. Seus integrantes pregavam o fim da arte comercial, da conservadora e dos museus. Ironia da história: o destino de suas instalações foi justamente virar peça de museu. Agora, pela primeira vez, um grande número de obras do movimento Fluxus pode ser visto em solo brasileiro a partir da terça-feira 20 no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, durante a mostra O que é Fluxus? O que não é? O porquê?, com objetos da Gilbert & Lila Silverman Fluxos Collection Foundation.

O objetivo confesso da trupe não era deixar marcos para a posteridade. Ao contrário, seus integrantes queriam mostrar o caráter efêmero da produção artística. A inspiração, foram buscar no dadaísmo e no construtivismo russo. Assim, misturaram o ânimo anárquico dos dadaístas à reflexão sobre a função social dos construtivistas. Certo romantismo também permeava o espírito do grupo. Muitas vezes, seus artistas assinavam coletivamente as criações. Segundo os organizadores da mostra, o aspecto comercial do circuito internacional de arte era um dos alvos prediletos. Mas o engajamento não se mostrava frequente. Apenas Maciunas tem algumas criações nesta direção. Uma de suas obras mais expressivas é a representação estilizada da bandeira dos Estados Unidos, na qual lista atrocidades feitas por governos diversos.

Maciunas era de fato o ideólogo da turma. Seu papel estava claro nos diversos manifestos que escreveu: “Purgue o mundo da doença burguesa, da cultura intelectual profissional e comercializada”, bradava. No entanto, como a contradição é uma das marcas do ser humano, foi entre os jovens burgueses que sua arte encontrou seguidores e admiradores. O desejo
de romper com o passado também
não se realizou inteiramente. Modificou
a forma, mas o velho conteúdo está lá.
A exposição de objetos, fotografias e livros dos integrantes do Fluxus permanece em Brasília até o final de setembro. Depois, ficará bem guardada por alguns meses em um cofre
de banco. Em fevereiro, segue para o Centro Cultural do Banco
do Brasil do Rio de Janeiro.