21/06/2006 - 10:00
O polêmico e agressivo funk carioca, quem diria, ficou bem comportado. As letras que falavam abertamente de sexo ou faziam apologia da criminalidade estão dando lugar a versinhos singelos como “Se ela dança, eu danço”, do MC Leozinho, ou “Glamourosa, rainha do funk/poderosa, olhar de diamante”, do MC Marcinho. A proposta “quebra-barraco” de Tati e Deize Tigrona cede lugar agora ao feminismo adolescente da funkeira evangélica Perlla. Tanto ela quanto Leozinho e Marcinho integram uma vertente mais comercial e menos agressiva do chamado “pancadão”. Trata-se do funk melody que invadiu as rádios, virou trilha de novela e já anima até festinhas infantis. É o funk família.
Leozinho, um dos primeiros a perceber que o funk melody tinha potencial para cair no gosto de programas de auditório (o que ocorreu nos programas do Faustão e do Luciano Huck), atribui o surgimento dessa linha light à expansão desse gênero musical na classe média. “Tem muita criança que gosta do som por causa da batida, não tem mais sentido continuar transmitindo aquela mensagem pesada”, diz ele. Funkeiro do Morro do Caranguejo, em Niterói, e ex-vendedor de sanduíches nas praias cariocas, Leozinho lembra que chegou a ser rejeitado nos bailes funks dos morros do Rio de Janeiro: “Não tinha lugar para o melody. Na zona norte tocam os funks mais politizados, na Baixada os mais sensuais. Eu era considerado careta por juntar violão e letras românticas.”
A funkeira Perlla, 17 anos, fluminense de
Duque de Caxias, começou a sua carreira de cantora no coro de uma igreja evangélica. O sucesso veio quando embarcou na nova tendência do funk recatado. Com um visual estilo Wanessa Camargo e uma voz tão estridente quanto a de Kelly Key, ela ganhou as rádios com o hit Tremendo vacilão. “O pessoal da igreja nunca me censurou por cantar funk, e eu também não julgo quem canta as letras mais pesadas”, diz Perlla – o seu nome é uma homenagem à cantora paraguaia Perla, de quem o avô é fã número 1. Não criticar os colegas do funk marginal faz parte dos preceitos democráticos desse tipo de música, mas ajuda também que o bom-mocismo dos funkeiros recatados não seja hostilizado pelos representantes do pancadão tradicional. Leozinho é pai de Letícia, sua filha e “princesinha de quatro anos”. Ele diz que em sua casa “essa vertente antiga não toca, não”. Mas garante: “Fico muito contente com o sucesso de Tati Quebra-Barraco e Deize Tigrona. Elas merecem.”