O alívio tomou conta novamente
da população de Metrópolis: mais
rápido que uma bala, mais veloz
que um avião, um risco desenhado
no céu da cidade marca o retorno do super-herói de roupa azul e capa vermelha, por alguns anos ausente da Terra para resolver “problemas familiares” no planeta Kripton. A volta do homem de aço em Super-Homem – o retorno (Superman returns, EUA, 2006), que aterrissa nos cinemas americanos no dia 28 e chega ao Brasil em julho, quebra uma ausência de 19 anos. Vem sendo preparada (com troca de diretores, roteiristas e atores) desde 1993 e acontece agora com uma polêmica. Devido a uma matéria de capa da revista gay americana Advocate, que examinava o apelo que super-heróis provocam nas platéias homossexuais, gerou-se o boato de que a história colocaria em dúvida a sexualidade do super-herói. Os rumores deixaram os estúdios da Warner de cabelo em pé, temerosos de que a contra-propaganda tirasse público da produção. Isso obrigou o próprio diretor, Bryan Singer, o homem por trás dos dois primeiros títulos da série X-Men, a vir a público e jurar que Clark Kent (verdadeira identidade de Super-Homem) é “o mais heterossexual” dos personagens de sua filmografia.

O lançamento do quinto episódio de Super-Homem coincide com o reaquecimento desse gênero cinematográfico, ameaçado nos últimos anos pelo rentável nicho dos desenhos animados. Fato raro em Hollywood, a fita chega a apenas um mês da estréia de outro blockbuster do gênero, X-Men – o confronto final, que está batendo o polêmico O código Da Vinci nas bilheterias americanas. Especialistas prevêem que Super-homem – o retorno, que custou US$ 260 milhões, renda US$ 400 milhões – mesmo tendo à frente do elenco um ator praticamente desconhecido, Brandon Routh, que ganhou o papel logo no primeiro encontro com Singer devido à semelhança com o falecido Christopher Reeve.

Falar em reaquecimento desses filmes significa atiçar fogo num confronto histórico – o das editoras Marvel e DC Comics, detentoras dos direitos de imagem da maioria dos super-heróis. Para fazer frente à DC Comics, subsidiária do grupo Time Warner, dona da marca Super-Homem (e também de Batman e Mulher Maravilha), a Marvel resolveu tirar do baú personagens como o Homem-de-Ferro, Thor e Ant-Man, todos previstos para chegar às telas nos próximos dois anos. Outra novidade da Marvel (que saiu do buraco com a série do caçador de vampiros Blade e com os dois episódios de O Homem-Aranha, emplacando na seqüência X-Men e Quarteto Fantástico) é que de agora em diante ela própria vai produzir seus filmes. O argumento do executivo chefe da Marvel, o israelense Avi Arad, é que a companhia lucrava pouco ao apenas licenciar os personagens para grandes estúdios como a Fox e a Sony, recebendo uma porcentagem nos lucros de, no máximo, 10%. “Ninguém sabe melhor que nós como dar vida a esses personagens. Queremos ser bem pagos por isso”, diz ele.

Para ter uma idéia, a Marvel ganhou apenas US$ 25 mil pela venda dos direitos de Blade para a New Line, em 1998, filme que faturou mais de US$ 130 milhões ao redor do mundo. No caso de O Homem-Aranha, cujos dois episódios somaram US$ 1,6 bilhão em bilheteria, o quinhão da Marvel foi de US$ 75 milhões. Arad quer mais. Ao bancar a produção dos próprios filmes, pode faturar mais de 50% dos lucros. Com um catálogo de cinco mil personagens, para deslanchar a produção de dez títulos, ele fez um empréstimo de US$ 525 milhões à Merrill Lynch. Uma das grandes apostas do novo estúdio é a volta do Capitão América, título adiado para 2009 devido à agenda do diretor. Arad preferiu investir antes em O incrível Hulk, mesmo depois do fiasco do primeiro episódio em 2003, dirigido por Ang Lee, de O segredo de Brokeback Mountain. “Lee fez um estudo sobre a raiva e as pessoas queriam um filme pipoca”, diz o executivo que escolheu um vilão à altura do empreendimento, o ex-espião iugoslavo conhecido como Abominação.

O efeito-pipoca não está descartado, obviamente, de Super-Homem – o retorno. Mas o diretor Bryan Singer recheou a história com elementos, digamos, mais psicológicos, na linha daqueles usados por Christopher Nolan em Batman begins. Além de cenas do passado de menino adotivo de Clark Kent (ele foi mandado pelos pais numa nave que caiu na fazenda dos Kent, em Smallville), o filme mostra a decepção do herói ao retornar à Terra e encontrar a amada Lois Lane (Kate Bosworth) casada com outro homem e mãe de um menino. Sem falar que os próprios habitantes de Metrópolis esqueceram de seus poderes. É aí que entra em cena o vilão Lex Luthor, vivido por Kevin Spacey, com um visual careca e expressão de psicopata. O plano do bandido é dominar a cidade usando contra o Super-Homem a mortífera kriptonita. “Os romanos construíram estradas; os persas, navios; os americanos, a bomba atômica. Eu, como Prometeu, trago o fogo”, diz ele.

Para não tirar a graça e manter o suspense, durante as filmagens Spacey só podia circular publicamente de boné. Ao contrário, a nova roupa do Super-Homem foi divulgada desde o início das filmagens, causando sensação no público gay. Brandon Roth tinha 60 delas: de tão apertadas, rasgavam à toa. Outro ponto alto do filme é a participação de Marlon Brando no papel de Jor-El, pai do super-herói. Mas não foi dessa vez que a anunciada digitalização de atores falecidos entrou em cena. As imagens de Brando são sobras de Super-Homem: o filme, de 1978.