“Aqui é melhor que no estádio, olha
só, tem gente do mundo inteiro!” Francisco Neto, gaúcho de Porto
Alegre, está com o filho adolescente. Diante deles desponta o Portão de Brandenburgo. À esquerda está o Reichstag e sua cúpula transparente. À direita aparece o memorial aos judeus mortos pelo nazismo. A poucos centímetros do chão onde pisam os brasileiros, uma placa no asfalto indica que ali passava o Muro de Berlim. Talvez não exista lugar no mundo com tantos dramas, tantos momentos decisivos. Tudo indica que uma nova camada de história ficará impregnada naquele pedaço da capital alemã depois da Copa. O lugar é o principal palco das chamadas Fan Fest, os imensos espaços abertos, com telões, música ao vivo, muita salsicha e cerveja, nas 12 cidades-sede do Mundial. A de Berlim é a maior de todas. Recebe a cada jogo pelo menos 50 mil pessoas. No antigo Parque Olímpico de Munique, a capacidade é equivalente. Em uma tradução livre, as Fan Fest são os “torcedódromos”. Viraram febre e a cara da festa, ponto de encontro de todas as nacionalidades. “Não podemos entrar no estádio porque os patrocinadores ficaram com a maioria dos ingressos. A solução é acompanhar daqui”, diz Ben Budde, que na noite de abertura da Copa viajara da Floresta Negra para Munique.

No primeiro grande evento da Alemanha desde a queda do Muro de Berlim, celebra-se a Copa como ápice da confraternização de um país agora definitivamente unido, apesar das gritantes diferenças sociais entre o leste e o oeste. Nesse cenário, as Fan Fest servem de espaço democrático para os excluídos dos estádios. Acusam-se os patrocinadores de terem bloqueado um número exagerado de ingressos – apenas 30% do total foram vendidos aos mortais enquanto na Copa de 1998 foram 44%. A saída são as ruas – e elas fazem o Mundial da Alemanha diferente de todos os outros, porque, se haverá três milhões dentro dos estádios, o dobro respirará os jogos fora deles, na inofensiva bagunça urbana. “Já fui muito a estádios e posso garantir que o ambiente na Fan Fest é mais divertido”, diz o sem-ingresso Budde em Munique. No caso de Berlim é especialmente verdade também porque a Adidas instalou à frente do Reichstag uma réplica do Estádio Olímpico – menor, mas com capacidade para abrigar cinco mil pessoas que, diante de telões, se sentam para acompanhar as partidas em alta definição, com narração de um Galvão Bueno teutônico. “Não é real, mas é quase”, define o brasileiro Francisco Neto.