21/06/2006 - 10:00
O mundo do futebol ouviu o apito final da vitória por 1 a 0 do Brasil sobre a Croácia, na terça-feira 13, com uma certeza e uma enorme dúvida. A convicção é a de que a Seleção, se continuar a jogar o futebol sem inspiração da estréia, terá tudo para voltar mais cedo. A dúvida: o que acontece com o atacante Ronaldo Fenômeno, bicampeão nas Copas de 1994 e 2002, eleito três vezes o melhor jogador do planeta? Apático e sem mobilidade, ele conseguiu dar apenas um chute nos 71 minutos em que esteve em campo, até ser substituído por Robinho. Seu poder de recuperação permite crer numa volta por cima. Mas a atuação apagada trouxe de volta alguns fantasmas. A virose diagnosticada antes do jogo não teria sido curada e o craque de 1,83 metro estaria bem acima dos 82 quilos declarados à Fifa pela CBF. Em outras palavras, gordo.
Na final de 2002, no Japão, Ronaldo tinha 77 quilos. Hoje, seu peso verdadeiro é um segredo guardado a sete chaves. A CBF informa 82 quilos, mas fontes do time em que joga, o Real Madrid, falam em 86. “Ele ganhou peso de 2002 para cá, está claro. Resta saber quanto disso foi músculo e a parte de gordura”, analisa o fisiologista do São Paulo, Turíbio Leite de Barros. Com 1,83 metro e 82 quilos, Ronaldo teria um índice de massa corporal (IMC) de 24,5. Não estaria gordo porque o sobrepeso é caracterizado por um IMC acima de 25 e a obesidade, a partir de 30. Mas, se ele estiver com 86 quilos, o índice salta para 25,68, o que seria excesso de peso.
Os médicos destacam, no entanto, que o importante é saber o índice de gordura no corpo. Em um jogador, ele deve estar entre nove e dez por cento. “Se esta taxa estiver boa, mesmo um IMC um pouco acima do limite não seria problema para um atleta deste nível”, alerta o presidente da Federação Latino-americana de Obesidade, o endocrinologista Walmir Coutinho. “Como esse dado não é revelado, fica difícil saber se ele sofre os efeitos de excesso de gordura ou da falta de ritmo, já que ficou dois meses e meio parado antes do Mundial”, completa Coutinho. Paulo Zogaib, especialista em medicina do esporte, aposta na segunda hipótese. Quando o problema é peso, diz ele, o atleta começa bem e perde rendimento antes dos outros. “Mas com o Ronaldo foi diferente: ele não se mexeu desde o começo. Para mim, foi falta de ritmo.” Para aumentar as preocupações, na manhã seguinte ao jogo o craque reclamou de tonturas e dor de cabeça. Levado a um hospital, fez vários exames, mas nada foi constatado. Mesmo assim, os sintomas desenterraram a desconfiança de que o atacante, vítima de uma convulsão antes da final do Mundial de 1998, e descrito como possível portador de epilepsia no Tratado de psiquiatria forense, de Guido Palomba, um dos mais renomados psiquiatras do País, poderia estar a caminho de uma nova crise do tipo. Ronaldo tem desafios e está acostumado com isso. O Brasil torce por sua vitória.