Para quem não gosta de política, um ótimo livro está sendo lançado em Brasília na terça-feira 20. O elefante é um animal político (Geração Editorial, R$ 19,90), do jornalista Tão Gomes Pinto, sem dúvida trata do tema em cada uma de suas 142 páginas, mas em nada se parece com a recente produção do setor, marcada por minuciosas reportagens sobre as CPIs e a crise no governo Lula. Para começar, assume que é de “auto-ajuda para quem tem ambições e um manual de sobrevivência para quem vive nos arredores do poder”. O que se tem, assim, é o resgate da velha e boa crônica: ágil, ferina e, muitas vezes, picaresca. Os nomes que hoje povoam a mídia não estão entre seus personagens principais. Bem ao contrário. Surge à volta de raposas do passado recente, como Tancredo Neves e Leonel Brizola, a maioria das 20 historietas contadas no livro. Para suavizar ainda mais o assunto, caricaturas do artista gráfico Robson Tamas emprestam trombas de elefantes a todos – a começar pelo próprio autor.

E por que elefantes? A analogia faz todo sentido quando se olha para a carreira profissional de Tão Gomes Pinto, aos 67 anos um dos mais completos jornalistas de uma geração brilhante. “Os textos foram feitos em etapas profissionais passadas, que são para mim como vidas anteriores”, compara esse profissional que participou da fundação de ícones da imprensa brasileira, como o Jornal da
Tarde
e as revistas Veja e ISTOÉ, da qual foi diretor de redação. “Dizem que os elefantes conseguem se lembrar de suas vidas. Eu também.” Aceitando-se a semelhança, vale destacar a técnica. Dono de um texto com vocabulário virtuoso, formas modernas e pródigo em mordacidade, Tão anuncia ter usado uma série de “licenças jornalísticas” na composição de suas crônicas – mas também contou muitas verdades até então inéditas. A mistura faz toda a diferença. Partindo de fatos reais, ele deriva para situações inventadas, mas jamais perde o fio da verossimilhança. Noutra palavra, viaja, mas para endereços que, quando não 100% precisos, estão nas cercanias da verdade. Ou há dúvidas de que, depois de uma grande jogada, o então governador Paulo Maluf contava tudo para a mulher, Sylvia? Se faltavam os diálogos, agora não faltam mais.

Quando se prende apenas aos fatos, o autor exerce sua singular capacidade
de julgamento e crítica, formada ao longo de mais de 40 anos de coberturas. Jornalista e assessor político, hoje em posição central no Senado, Tão Gomes
Pinto viu e ouviu, antes, o que o grande público só soube depois. O elefante é um animal político, ótimo para quem não gosta mas quer descobrir a política, é imperdível para os iniciados.