Encostado na poltrona bege que instalou no centro de seu gabinete no Palácio do Planalto, o vice-presidente José Alencar aperta os lábios para prender a resposta.

– O sr. será vice de Lula na chapa da reeleição?
Ele não responde de pronto. Puxa do bolso do paletó uma carteira de Café Creme e pega uma cigarrilha. “Foi o Lula quem me ensinou a fumar dessas”, revela. “E eu trago”, acrescenta, com um sorriso maroto. “Estou com 74 anos, mas continuo jogando futebol”, prossegue. “E pode anotar: estou marcando meus gols.” Alencar dá uma gargalhada e acende a cigarrilha com um singelo isqueiro Bic.

– E então, a chapa já está fechada?
Agora ele espreme entre os dedos sua caneta Montblanc, encara o gravador do repórter e, muito sério, responde: “A decisão sobre isso não é minha. Não existe candidato a vice. Vice é objeto de convite e aceitação”, ensina. Se ainda não veio o convite, uma elegante insinuação já foi feita. Dias atrás, o presidente Lula acenou para Alencar que os dois deverão repetir a chapa de 2002 nas eleições deste ano. “Tudo caminha para continuarmos juntos”, disse o presidente a seu vice.

Saboreando sua cigarrilha e
ainda tragando as palavras do
presidente, Alencar já começou até a fazer planos sobre sua atuação no próximo governo. No sábado 24, a previsão é a de que Lula oficialize sua candidatura na convenção do PT. O anúncio sobre quem será o vice deve acontecer na véspera. Para chegar à conclusão de que deve repetir a chapa de 2002, Lula vem dando muitas voltas. Ele está insistindo há meses em fechar uma coligação formal com o PMDB. Dois nomes chegaram a ser convidados por Lula – o ex-ministro do Supremo Nélson Jobim e o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos. Só que o PMDB já decidiu ficar fora da coligação. Em paralelo, Lula vem negociando com o PSB do ex-ministro Ciro Gomes e com o PCdoB do presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Aldo não se viabilizou. Ciro, por sua vez, tem mais vetos que apoios. O PT não o quer – a avaliação da direção do partido é a de que, caso Ciro se torne vice, vira o mais forte candidato a presidente em 2010. Os tucanos Aécio Neves e José Serra também não o querem pelo mesmo motivo. Por fim, o PSB prefere não fechar uma coligação formal com o PT. “Meu projeto é ser deputado federal”, disse Ciro a ISTOÉ. Na semana passada, apareceu um novo nome nas articulações de bastidores, o deputado Eduardo Campos, presidente do PSB.

Olhando tudo sem fazer cenas de ciúme, Alencar já conversou muito com a família sobre seu futuro. Mariza, companheira de 48 anos, quer que ele volte à sua empresa, a Coteminas, para ajudar o filho Josué Gomes da Silva a tocá-la. Os três filhos também o querem por perto. Ele resiste. “A política só tem uma porta, a de entrada, não há como sair”, respondeu o vice à família, repetindo a antológica frase do ex-governador mineiro Benedito Valadares. Há três meses, ele queria se lançar candidato a presidente da República pelo PRB, seu novo partido. Lula o puxou para as reuniões mais íntimas do poder. Alencar então começou a trabalhar por Lula. Sua missão no momento é levar o PMDB de Minas Gerais, seu partido de origem, a aderir à candidatura ao governo do petista Nilmário Miranda. Está quase conseguindo. O PT, por sua vez, já convidou Alencar para ser candidato a senador, caso o PSB acabe indicando o vice de Lula. Alencar entrou no final de semana sem saber ao certo qual será seu futuro político. Mas está tão entusiasmado com a possibilidade de permanecer por mais quatro anos no Palácio do Jaburu que já decidiu até mesmo qual seu novo cavalo de batalha. Não vai mais falar contra os juros altos. Ele agora vai lutar para convencer Lula a ampliar o Conselho Monetário Nacional. “É o órgão que trata da fixação da política econômica do País”, explica. “Por isso precisamos que a economia real esteja representada nele.” Eis aí o próximo José Alencar.