DIVULGAÇÃO/ FOTOS: CPDOC/JB/ ROVERT SCHWENCK

O PRESENTE E O PASSADO O visual do novo teatro (no alto), cena de A noviça rebelde,
encontro pelas Diretas-já (1984) e o show de Chico Buarque (1974)

O Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, tem seu nome ligado a um dos períodos mais difíceis e (segundo alguns artistas e críticos) criativos da cultura brasileira: o período da censura durante a ditadura militar. Foi lá que Chico Buarque, Elis Regina e Maria Bethânia fizeram shows antológicos. Foi lá também que políticos, artistas e intelectuais se reuniam quando se começou a esboçar o movimento pelas Diretas-já. Com o título de templo da resistência, o Casa Grande sobreviveu ao regime autoritário e às ameaças de despejo, mas não conseguiu sair ileso de um incêndio em 1997. Embora tenha funcionado, precariamente, após esse incidente, nunca mais foi o mesmo e acabou se rendendo em 2003, quando fechou suas portas. Vieram as obras. No local se ergueu um outro templo, não da cultura, mas sim do consumo, o Shopping Leblon. Agora, dentro desse shopping, ele renasce. Não, não é exatamente o mesmo de antigamente. Hoje, o novo Teatro Casa Grande se habilita a ser um dos mais modernos do Brasil, com capacidade para 950 pessoas e megaproduções como o musical A noviça rebelde, de Charles Möeler e Cláudio Botelho, que estréia em maio.

Foi em homenagem ao livro do sociólogo Gilberto Freyre Casa Grande & Senzala que o teatro recebera esse nome – era vizinho, na época de sua inauguração em 1966, da favela Praia do Pinto. "Ninguém sabe quem deu o nome, mas, já que tinha a senzala, tinha de ter a casa grande. Nunca achei muito simpático, mas a idéia pegou", diz o produtor cultural Max Haus, um dos fundadores juntamente com Moysés Ajhaenblat. A dupla se associou agora ao empresário Luís Calainho, que não pretende apagar a tradição combativa da casa. "Manter essa marca é condição da reabertura do teatro, que continuará sendo referência cultural e política. Não ficaremos reféns de determinados conteúdos", diz ele.

A nova programação ainda está sendo definida, mas já se sabe que o teatro ficará aberto diariamente e terá apresentações de música (inclusive clássica) e dança, além de debates com representantes do cenário político e cultural – a diversidade, enfim, que sempre marcou a casa pela qual passou a elite da MPB dos anos 60 e 70 e personalidades como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Também foi nesse palco que, em 1985, Fernando Lyra, então ministro da Justiça, anunciou o fim da censura. Lá no passado, para conseguir a liberação de shows, peças e debates, os proprietários tinham de ir aos censores. "Alegávamos que cobraríamos ingresso. Como seria possível cobrar ingresso de uma discussão política?", indaga Haus, numa alusão àquelas décadas de pouca liberdade e muitos ideais que fizeram do Teatro Casa Grande um dos símbolos culturais do País.