Que o Brasil é um país de contrastes abissais é de uma obviedade cristalina. Impressionante é constatar que o mesmo país dono de um litoral maravilhoso, com um potencial turístico que poucos lugares no mundo têm – como está comprovado na reportagem de capa desta edição –, convive com um escândalo como o relatado pelo editor Amaury Ribeiro Jr., da sucursal de Brasília, a partir da pág. 38. O que era para ser motivo de comemoração e orgulho vira mais uma tragédia nacional. Escondida na reserva dos índios cinta larga, localizada numa gigantesca área entre Mato Grosso e Rondônia, pode estar a maior reserva de diamantes do mundo, com capacidade para a produção de, no mínimo, um milhão de quilates por ano. Parece uma excelente notícia, mas não é. No lugar de empregos, divisas e progresso, a reportagem registra um quadro caótico. Dominada pelo crime organizado, que impõe sua ordem à base de assassinatos e intimidação, a exploração do diamante só gera crimes. Contrabandistas de vários continentes “exportam” US$ 20 milhões por mês em pedras retiradas apenas da terra dos cinta larga. Para o governo, nenhum centavo de real. Para os índios, a triste perpetuação de uma sina. O escambo de sua riqueza por espelhinhos modernos: celulares, carros e aviões.

Falta uma ação efetiva das autoridades. Afinal, o Ministério Público tem dados mostrando que 98% da produção nacional de diamantes sai ilegalmente do País. O governo tem instrumentos para agir. Além da Polícia Federal, existe a legislação ambiental, que deveria coibir a devastação que acontece a céu aberto. As leis trabalhistas também não valem naquela terra de ninguém. Os garimpeiros que sonham com o eldorado são brutalmente explorados na ilusão de encontrar uma pedra de 100 quilates, como a que era oferecida por US$ 6 milhões nas ruas da miserável cidade de Juína, a capital de mais uma maldição brasileira.