Erick de Carvalho, um dos pioneiros
da Varig, ex-presidente da empresa, costumava dizer que o maior risco para
uma companhia aérea é a falta de coesão interna. Foi esta, sem dúvida, a causa
da queda dos últimos três presidentes da companhia, Fernando Pinto, Ozires Silva
e Arnim Lore, estes dois em 2002. Lore assumiu há apenas três meses, aparentemente com o apoio dos acionistas, mas não resistiu às pressões e caiu no domingo 24. Já havia ocupado uma diretoria da empresa, da Riosul – que pertence
ao mesmo grupo –, dirigiu Petrobrás, Banco Central, Açominas e Unibanco. Para o
seu lugar, foi escolhido o executivo
Manuel Guedes, que deixou a direção de controladoria e relações com investidores e assumiu a presidência na quarta-feira 27. Depois da experiência de dois executivos do mercado, a Varig volta a recorrer a seus próprios quadros.

O novo presidente terá que fazer milagres. Guedes terá de unir
a companhia em torno de um acordo com credores, especialmente
GE, Boeing, Infraero e INSS, e tornar viável uma negociação com
o BNDES para garantir um suporte ao seu plano de recapitalização.
A dívida da empresa gira em torno de US$ 900 milhões. Uma de
suas maiores dificuldades será convencer os funcionários com
altos salários a admitir uma redução de rendimentos por um
prazo mínino, mesmo mantendo algumas vantagens.

O projeto de salvação da empresa já estava pronto, mas, na segunda-feira 25 foi confirmado o rompimento do grupo que negociava com os credores e com a Fundação Rubem Berta, que tem o controle acionário da empresa. Caiu, então, não só o presidente Lore, mas também três membros do Conselho: Clóvis Carvalho, José Roberto Mendonça de
Barros e Luís Spínola. A despedida de Lore não ocorreu na sede da empresa, no centro do Rio de Janeiro, mas no Hotel Glória, a dois quilômetros, na zona sul. O fato, inédito, mostrou até que ponto
havia chegado a divisão do grupo. Assim como seu antecessor,
Ozires Silva – que ainda é atacado por funcionários –, Lore sofreu hostilidades. Começou sua administração demitindo, inclusive, alguns funcionários até então intocáveis. Mas conseguiu o que o mercado da aviação considerava quase impossível: fechou um acordo com os credores. Até esta semana o BNDES daria seu aval ao plano de recuperação da empresa. Mas as coisas não estão perdidas. “A recuperação da Varig só depende da própria Varig e dos seus credores”, disse a ISTOÉ o presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho Filho.

A crise da Varig não é só resultado da administração equivocada de

ex-presidentes como Hélio Smidt e Rubel Thomas, nem de erros estratégicos da Iata, que estabelece as tarifas internacionais. Somado

a isso, sofre as consequências dos planos Cruzado, Bresser e Collor,

que impuseram tarifas abaixo do custo, além da carga tributária mais elevada do planeta, de 35%, adotada pelo governo, da valorização

do dólar e do abusivo aumento do combustível de aviação, que já

chegou a 120%. Todas as grandes empresas do setor estão fechando

o ano com prejuízos. A TAM já está com um projeto de recapitalização que pode permitir a entrada de sócios na composição acionária da empresa e contratou o Banco Fator como consultor e analista para

uma possível operação financeira. Das três maiores empresas, só

a Vasp está escapando do “vermelhão” financeiro.