14/06/2006 - 10:00
Maddalena (interpretada pela soprano Maria Russo) é uma patricinha deslumbrada que conhece Chénier (o tenor búlgaro Kaludi Kaludov), um poeta revolucionário. O amor dos dois reúne todos os ingredientes de felicidade. Mas vivem-se tempos de guerra civil, de traições e delações no conturbado cenário social da Revolução Francesa. Gerard (o barítono brasileiro Lício Bruno), um ex-mordomo que subiu na vida, também é apaixonado por Maddalena – e para ficar com ela não hesita em denunciar o poeta, que é condenado à morte. Esse enredo daria um bom filme ou até mesmo um romance. Mas nas mãos do compositor italiano Umberto Giordano (1867–1948) virou a ópera Andrea Chénier, atualmente em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo. O pano de fundo revolucionário do libreto (argumento) de Luigi Illica foi mantido na montagem assinada pelo maestro Jamil Maluf.
Segundo André Heller, por dois anos à frente do prestigiado Covent Garden londrino e responsável pela direção da montagem paulistana, trata-se de uma história atemporal que poderia se passar atualmente – na guerra do Iraque, por exemplo. O mais importante do espetáculo está na encenação, a chamada mise-en-scène, típica dos trabalhos líricos. Mais ainda que o cinema, a ópera possui as ferramentas ideais para a transmissão de emoções fortes, a começar pela proximidade física dos personagens. Daí a importância dos artistas escolhidos. Graças à força vocal dos protagonistas, destacam-se os momentos especiais das árias (trechos de ópera em que os intérpretes solam). Em Andrea Chénier há, por exemplo, La mamma morta, música cantada por Maddalena e que se popularizou no filme Filadélfia, com Tom Hanks, na voz da consagrada soprano grega Maria Callas. A emoção incontida foi utilizada para dar profundidade ao personagem vivido por Hanks.
Baseada nos coros e danças da Grécia antiga, a ópera surgiu como a conhecemos na Itália do final do século XVI. A primeira delas foi, inclusive, tirada de um mito grego – Eurídice, de Jacopo Peri (1597). Ao contrário do que se pensa, o gênero logo deixou a corte e se popularizou, expandindo-se para a França, Inglaterra e Alemanha. Era comum os espectadores mais humildes e suas famílias, que ocupavam as chamadas torrinhas (os lugares mais distantes do palco), levarem comida para o teatro. Talvez surja daí o costume de se atirar ovos e tomates nos atores antipáticos. Mas diante de tamanha excelência gritar “bravo!” tornou-se uma expressão tão popular quanto os gritos de gol.