No Brasil, o livro Tête-à-tête (Objetiva, 468 págs., R$ 54,90), de Hazel Rowley, está incensado pela descoberta de um romance entre Jean-Paul Sartre e a jornalista e deputada Cristina Tavares (já falecida), sua intérprete quando ele esteve no Recife, na década de 60. A fofoca inédita, entretanto, quase passa batida no livro. A autora diz que o existencialista francês “tentara seduzir uma jornalista brasileira” e reproduz um trecho de uma carta escrita por Simone de Beauvoir – a eterna companheira do escritor – a Nelson Algren, seu amante. “Passamos uma noite louca, ela (Cristina) quebrou copos com as mãos nuas e sangrou muito, dizendo que ia se matar porque amava e odiava Sartre, e nós íamos embora no dia seguinte. Dormi na cama dela, segurando-lhe o braço para impedi-la de se atirar pela janela. Sartre diz que talvez se case com ela!”, resume. A autora registra que nos meses seguintes “a moça brasileira escrevia cartas apaixonadas, mas Sartre decidiu não se casar com ela”. O sobrinho de Cristina, o professor da USP José Tavares Correa de Lira, não acredita em romance entre eles: “Há um certo exagero nessa história de sedução. Sartre e Cristina construíram foi uma intensa amizade.”

Uma frase de Beauvoir, dita quase no fim do livro, explica o recorrente envolvimento do escritor com suas intérpretes: “Em quase todas as viagens que fizemos ou você fez, houve uma mulher que acabava sendo a encarnação do país para você.” Os escritores franceses Sartre e Simone são conhecidos pelas obras geniais que produziram e também pela relação aberta que mantiveram, e que chocava o mundo. Ambos tinham amantes e detestavam o casamento. Ela foi perdidamente apaixonada pelo americano Algren, mas optou pela liberdade ao lado de Sartre. Ele teve um romance mais sério com sua tradutora na então União Soviética, a russa Lena Zonina, que, por ser diabética, deixava-o constantemente com medo de perdê-la.

Segundo Lira, há três cartas de Sartre e duas de Beauvoir para a tia Cristina – que nunca casou nem teve filhos. Numa das cartas o existencialista faz um comentário crítico a um livro de Jorge Amado, sem citar o título. “O livro de Amado, você sabe, é muito sectário. É preciso compreendê-lo nas condições em que foi escrito, o exílio, depois do golpe de Estado de Vargas. Por conta dessa condição, ele não foi capaz de perceber que a revolução é um processo.” As correspondências ratificam a força das idéias políticas do intelectual na formação da jovem brasileira. “Não se incomode por acharem que você é comunista. Você não é. Confundem mulheres comunistas com mulheres da vida.” Sartre chega a falar em nome do casal: “Nós somente despertamos sua audácia. Quando você nos conheceu, já não suportava o mundo em que vivia, suas hipocrisias e misérias.”