Longe dos gramados há 29 anos, Pelé continua atraindo a atenção dos apaixonados por futebol em todo o planeta. Prova disso é que o livro Pelé, a autobiografia (Sextante, 298 págs., R$ 29,90), que chega agora às livrarias brasileiras, foi editado e lançado primeiro na Inglaterra pela Simon & Schuster. O sucesso foi estrondoso. No site Bookseller a obra consta como o mais vendido na categoria “não-ficção de capa dura” e a crítica do jornal The Independent não poupou elogios. O livro se vale de uma receita que parece simples, mas não é – unir boas histórias (poucos no mundo viveram emoções tão diversas como Pelé) e bom texto. Pode causar surpresa que o título inclua a expressão autobiografia, já que a obra tem dois redatores: Orlando Duarte e Alex Bellos. Mas o que importa é que eles deram conta do recado. A seguir, alguns trechos:

O apelido
“Eu me orgulhava de ter recebido o meu nome em homenagem a Thomas Edison e queria ser chamado de Edson. Achava que o nome Pelé soava mal. Era tolo, não fazia sentido. (…) Então, quando alguém dizia: “Ei, Pelé”, eu respondia de mau humor e ficava bravo. Certa vez dei um soco num colega de classe por causa disso, o que me valeu dois dias de suspensão.”

Racismo
“Houve uma garota, uma das primeiras, por quem eu sentia uma atração muito forte, mas o pai dela acabou com tudo: chegou na escola um dia e deu uma bronca nela por estar conversando comigo.
– O que você está fazendo com esse
negrinho? – gritava.
Foi a primeira vez, creio, que tive contato direto com o racismo, e foi absolutamente chocante. Minha namorada era branca, mas nunca tinha me passado pela cabeça que alguém pudesse se incomodar com aquilo – ou comigo. (…) Corri para casa e chorei até não poder mais.”

A conquista do tri
“Carlos Alberto e eu nos conhecíamos excepcionalmente bem, dentro e fora do campo. (…) A intensidade da emoção quando Carlos Alberto ergueu o troféu acima da cabeça, com lágrimas de felicidade nos olhos, foi diferente de tudo o que eu havia sentido em minha vida, a não ser, talvez, quando vi Bellini fazer o mesmo gesto em 1958. (…) E eu tinha disputado todas as partidas, passado por tudo ileso, o que me deu a sensação de ter acabado de conquistar tudo o que sonhara na vida.”

Pelé x Senna
“Depois de mim, Xuxa saiu com Ayrton Senna, o campeão de Fórmula 1. As pessoas sempre especularam que Ayrton e eu teríamos um problema por causa dela, mas isso é ridículo. Como a carreira dele decolou quando eu morava em Nova York, não cheguei realmente a conhecê-lo.”

O namoro com Xuxa
“Conheci-a quando ela estava com 16 anos de idade. (…) Ela classificava nosso relacionamento como ‘amizade colorida’… Eu costumava brincar que estava mais para preto-e-branco. (…) Ajudei Xuxa a decolar na carreira, apresentando-a a alguns amigos meus que faziam filmes considerados, naquela época, um tanto picantes. (…)”.

Maradona
“Acho que quando se comparam jogadores de futebol é preciso levar tudo em conta – quem chuta melhor com o pé direito, quem chuta melhor com o pé esquerdo, quem cabeceia melhor, quem corre mais e assim por diante. E num teste como esse não existe comparação, realmente. Essa é a realidade.”

O filho preso
“Depois de me sentir culpado por algum tempo, cheguei à conclusão de que não poderia assumir sozinho a responsabilidade. (…) Eu tinha me afastado em função da minha carreira, minha realização. (…) Atirei-me por inteiro em tudo que fiz. A única coisa que faltou ao Edinho e aos meus outros filhos foi a presença constante que se poderia esperar de um pai participante. Arrependo-me disso, mas foi uma conseqüência inevitável do que eu fazia para viver.”