O mercado financeiro terminou a quinta-feira em estado de graça. O calmante foi receitado e aplicado pelo Fundo Monetário Internacional, na forma da aprovação de um empréstimo de US$ 30 bilhões para o governo brasileiro. São US$ 6 bilhões a serem usados por Fernando Henrique Cardoso e US$ 24 bi para uso do seu sucessor, seja ele quem for. Não por coincidência, a liberação do dinheiro aconteceu ao mesmo tempo da visita do secretário do Tesouro americano, Paul O’Neill, ao Brasil, Uruguai e Argentina. O mesmo Paul O’Neill, que, usando sua identidade de O’Neill, o boquirroto, jogou, na semana passada, gasolina num mercado já suficientemente incandescente, ao declarar-se contra tal empréstimo por temer que o dinheiro fosse engordar contas particulares na Suíça. Essa esquizofrenia do secretário é explicada pela vulnerabilidade de algumas empresas americanas no Brasil, principalmente bancos. Para o jornal The New York Times, a decisão de aprovar o empréstimo foi em grande parte motivada pelos interesses dos bancos e empresas americanas no Brasil.

egundo o jornal, “não se pode dizer quanto os bancos e indústrias americanos fizeram de lobby para o plano de resgate do Brasil, mas eles certamente se beneficiarão dele. As ações do Citigroup e do FleetBoston chegaram a subir 6%, assim que os mercados abriram na quinta-feira”. Para o influente colunista Paul Krueger, do mesmo The New York Times, os Estados Unidos, graças ao governo Bush, perderam muita credibilidade na América Latina. Para ele, a partir de agora “há que se solidarizar com os líderes políticos da região, que pretendem temperar seu entusiasmo com os livres mercados com mais esforços para proteger pobres e trabalhadores”.

Mas a euforia do mercado durou menos de 24 horas. O dólar encerrou os negócios da sexta-feira com alta de 3,78%, a R$ 3,02 – mais caro do que terminou a semana anterior. O risco Brasil subiu mais de 15%, atingindo 2.033 pontos no final da tarde. A Bolsa de Valores de São Paulo, que havia subido 4,52% com a boa notícia do FMI, caiu 3,2% no final da sexta-feira. Tudo isso graças à praga das sextas-feiras: o boato. O otimismo do mercado com o empréstimo do FMI foi atingido em cheio pelo boato que correu pelo País de que o candidato José Serra estaria sendo pressionado por integrantes de seu partido, o PSDB, a jogar a toalha, caso apareça em quarto lugar nas pesquisas eleitorais do fim de semana. Ainda segundo o boato, a renúncia já teria até data marcada. A assessoria do candidato negou que ele tenha qualquer intenção de renunciar.

Hélio Campos Mello, Editor