02/04/2008 - 10:00
Em dois dias, um mesmo atleta bateu os recordes mundiais da mais tradicional e da mais rápida prova olímpica de natação: os 100 e os 50 metros livre, respectivamente. Dobradinha que não se repetia desde 1986. O autor da façanha é o até então desconhecido Alain Bernard, um francês que disputará sua primeira Olimpíada. A proeza, porém, teve o brilho ofuscado pela roupa que o nadador usou no Campeonato Europeu, na Holanda, recentemente. Desenvolvido pela Speedo em parceria com a Nasa, o macacão LZR Racer é feito com tecnologia aeroespacial e ajuda os nadadores a “economizar” preciosos centésimos de segundo. O surpreendente desempenho de Bernard foi o estopim de uma polêmica que começou no mês passado. De lá para cá, 14 recordes mundiais foram superados. Só uma nadadora não usava o traje.
Intrigada com a coincidência, a Federação Internacional de Natação (Fina), que já havia aprovado o macacão, voltou atrás e resolveu cobrar explicações da Speedo. Representantes das duas partes se reunirão em abril, durante o Mundial em piscina curta, na Inglaterra. O LZR Racer não tem costuras. Ele é “soldado” com ondas de calor, o chamado processo ultra-sônico, que reduz o atrito com a água, ajudando o atleta a deslizar melhor. Além disso, tem 30% de elastano, o que o deixa colado ao corpo como nenhum outro. Renato Hacker, diretor de marketing da Speedo, garante, no entanto, que não há nada de errado com a roupa: “Os produtos são desenvolvidos nos padrões exigidos, com aprovação das entidades internacionais”.
O que também preocupa os dirigentes da Fina é o acesso dos nadadores ao macacão. Fora o preço (cerca de R$ 950), o compromisso de alguns atletas com outros patrocinadores poderia deixá- los em desvantagem. A Speedo afirma oferecer a roupa a todos. Só não usa quem não quer. Por conta de um acordo entre o Comitê Olímpico Brasileiro e a marca, os brasileiros usarão o LZR Racer em Pequim. Dois deles já o testaram: César Cielo e Thiago Pereira. “Usei pela primeira vez em fevereiro. Ele ajuda a flutuar, você se sente em cima da água e fica mais fácil nadar”, conta Pereira, referindo-se ao GP do Missouri, nos EUA, quando ganhou uma medalha de ouro e outra de prata.
Supervisor técnico de natação da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Ricardo de Moura explica que a tecnologia pode ajudar em uma disputa de alto nível, decidida nos centésimos, mas não garante um bom desempenho. O ex-nadador Gustavo Borges concorda: o macacão não nada sozinho. “Eu mesmo usei uma sunga de papel que ajudou. Se o atrito é menor, você ganha velocidade”, diz, lembrando da sunga fina e apertada que usou nos Jogos de Barcelona, em 1992.