09/08/2002 - 10:00
Em janeiro, o promotor Saulo Castro de Abreu Filho assumiu a Secretaria de Segurança de São Paulo com uma missão bem definida: vencer, e rápido, a batalha contra o crime organizado. Assim estaria cumprindo seu papel de chefe de polícia e alavancaria os índices de popularidade do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Começou bem. Entre janeiro e fevereiro, os sequestros em São Paulo caíram de 48 para 24 e no início de março uma ação cinematográfica da PM permitiu algum respiro ao governador. Na região de Sorocaba, os policiais barraram um ônibus com 12 homens a bordo. Depois de muitos tiros, os 12 morreram. Pela versão oficial, eram bandidos pertencentes ao PCC. “Foi uma ação de inteligência. Grampeamos alguns telefones e nos antecipamos ao crime”, comemoraram o secretário e o governador, na época. Hoje, a história é outra. O que foi considerado demonstração de competência pode ter sido um crime. Na última semana, o procurador-geral de Justiça pediu ao TJ que investigue a participação do secretário em ações praticadas pelo Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância (Gradi). Trata-se de um pessoal da PM ligado diretamente ao gabinete do secretário. Com base em denúncias formuladas à OAB e ao Ministério Público, sabe-se que esses policiais, com autorização judicial questionável, retiravam prisioneiros da cadeia e os infiltravam no PCC para obter informações. As denúncias dão conta de que esses presos eram torturados para fazer esse “serviço”. Segundo carta remetida por um preso à OAB, o secretário chegou a participar de conversas com alguns desses presos. “Isso é um absurdo”, reclama o secretário. O Tribunal de Justiça deverá ouvir os presos e também o secretário. Pode ser que o conflito com o ônibus do PCC e outras operações não tenham passado de armadilhas, o que tem aprovação popular, mas não tem amparo legal. Até que o caso seja efetivamente esclarecido, o governador promete manter o secretário no cargo. A mesma sorte não tiveram os juízes-corregedores Otávio Augusto Machado de Barros Filho e Maurício Lemos Porto Alves, que autorizaram a retirada dos presos. Na semana passada, os dois foram afastados até que as investigações terminem.