09/08/2002 - 10:00
O eleitorado paulista anda pouco animado com as eleições que definirão o governador da maior cidade do País. Nem Paulo Maluf (PPB), nem Geraldo Alckmin (PSDB), nem José Genoíno (PT), os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, estão entusiasmando o maior colégio eleitoral brasileiro, que agrega 24,6 milhões de eleitores. A campanha para governador de São Paulo não decola e passa a ter importância relativa na cabeça do eleitor devido à força da campanha presidencial, turbinada pela polarização entre dois candidatos de oposição e o representante do governo e pela crise econômica que empurrou o País para o colo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo pesquisa ISTOÉ/Toledo & Associados, fechada no dia 28 de julho, que ouviu 1.200 eleitores, 69% dos entrevistados não têm candidato, um aumento de dois pontos porcentuais se comparados com os resultados do mês anterior. Apenas 24% já escolheram candidato e 6% estão em dúvida em quem votar.
O sociólogo Francisco José de Toledo, diretor da Toledo & Associados, acredita que o início do horário eleitoral gratuito no dia 20 de agosto vai servir não só para motivar o eleitor como também para informá-lo que existe uma eleição para governador. O ex-prefeito Paulo Maluf se mantém à frente da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, com 38,7% das intenções de voto, contra 24%,7 do governador Geraldo Alckmin e 14,1% de José Genoíno. O escritor Fernando Morais (PMDB) aparece em quinto lugar, com 1,5%, atrás do candidato do PGT, Carlos Apolinário (1,9%). Apesar da folgada diferença, o crescimento de Maluf, segundo Toledo, estagnou e o de Alckmin está dentro da margem de erro, que é de dois pontos porcentuais. De maio a julho, o maior aumento de intenções de votos foi registrado na candidatura do petista José Genoíno (55%), seguido de Alckmin (16,5%). A propaganda eleitoral, disse Toledo, vai ajudar na exposição da candidatura peemedebista, que deverá ganhar mais adeptos. Também os assessores do PT apostam no horário gratuito. O desafio maior, no entanto, é mostrar em pouco tempo de tevê que Genoíno é candidato ao governo do Estado, e não a uma cadeira na Câmara dos Deputados, como nas últimas cinco eleições. Desenvolvimento do Estado e segurança pública são as principais bandeiras do marketing de Genoíno, que vai colar sua imagem à de Lula.
O candidato alternativo com o melhor índice continua sendo o tucano Geraldo Alckmin. Ele passou de 2 0% para 22,7%. Maluf e Genoíno empatam na segunda colocação, com 13,9% e 13,1%, respectivamente. Toledo ressalta que não há nada de ideológico ou partidário na transferência do voto para o candidato alternativo. “Trata-se de um voto pessoal”, afirma, traduzindo os números que mostram que 36% dos eleitores de Maluf votariam em Alckmin como candidato alternativo e 33% dos eleitores do governador votariam em Maluf. Dos eleitores de Genoíno, 13,6% optariam por Maluf contra 18,9% que seguiriam para Alckmin. O candidato que mais abocanharia votos dos eleitores petista (27,8%) seria o escritor Fernando Moraes (PMDB).
A rejeição à candidatura de Maluf passou de 25,8% em maio para 28,3% em julho. No entanto, o ex-prefeito, no momento, mantém um dos seus menores índices nesse quesito, que já bateu na casa dos 38%, o que invalida qualquer possibilidade de vitória numa disputa em segundo turno. Maluf e sua equipe, que tomaram um grande susto na quarta-feira 7, quando o helicóptero em que estava foi encoberto por um denso nevoeiro e obrigado a fazer um pouso de emergência em Juquitiba, não se assombram com as principais razões do eleitor para rejeitar o candidato: “Acho que ele(a) é desonesto(a), ladrão/ladra”, “não gosto do candidato(a)” e “não confio nele(a), acho que é falso(a)”. O segundo maior índice é de José Genoíno 11,6%, sendo que o principal motivo que pesa sobre sua candidatura (58,3%) está no PT. Alckmin, que venceu no TRE a batalha pela impugnação de sua candidatura, tem 7,5% de rejeição. Os números também são favoráveis ao tucano quando o eleitor avalia o seu governo. Somados os porcentuais de ótimo (2,3%), muito Bom (3,1%), bom (33,2%), regular para bom (28,4%), Alckmin tem medição positiva de 67% contra 27,6% que lhe atribuem notas negativas. Pesa sobre ele a questão da segurança pública. O tema, segundo assessoria dos principais postulantes ao governo de São Paulo, será a vedete do primeiro debate dos candidatos, promovido pela Rede Bandeirantes, que acontecerá nas principais capitais do País, às 21h de domingo 11. A direção de jornalismo da Band reduziu o programa de quatro para duas horas e 40 minutos, que terá, em São Paulo, a presença de dez candidatos. A emissora também mudou as regras do debate porque Maluf ameaçou não ir ao encontro.
Na dança dos números, Toledo chama a atenção para duas vertentes apontadas pelos eleitores. A primeira delas é que Genoíno está começando a agregar à sua candidatura os índices que o PT possui em São Paulo. Ao mesmo tempo que não descarta a possibilidade de repetição do fenômeno que classifica de alma coletiva para as eleições paulistas, o mesmo que levou Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo, chama a atenção para a candidatura Maluf, que pode emplacar já no primeiro turno. “A eleição de Erundina foi um fenômeno raro e se deveu ao que chamo de alma coletiva. Ela estava em terceiro lugar e a população se vingou no voto.” A segunda análise feita pelo sociólogo está relacionada ao desempenho apresentado por Maluf junto ao eleitorado paulista. “Se não provarem que ele tem aquelas contas na Ilha de Jersey, mais uma vez se dará a ele um atestado de honestidade, como aconteceu no governo de Franco Montoro, que passou seis meses investigando sua administração e nada encontrou”, analisa Toledo.
As intenções de voto de Romeu Tuma (PFL), candidato à reeleição
do Senado, passaram de 36,1% em maio para 44,5% em julho. O
ex-governador Orestes Quércia (PMDB) está em segundo lugar com 31,9%, seguido de Aloízio Mercadante, do PT, que tem 27,5% da preferência do eleitorado paulista. A luta pela segunda vaga de
senador por São Paulo, segundo Toledo, está indefinida. Atrás de Mercadante vem o número de eleitores ouvidos que não votariam nos nomes apresentados na lista (22,9%), seguido de indecisos (16,5%), não sabe/não respondeu (11,4%) e nulo (8,6%). Os porcentuais reforçam que está faltando empolgação ao eleitor.