As teses de defesa e acusação mostradas na semana passada estão nos autos do processo tim-tim por tim-tim. Mas o teatro das apresentações no palco do STF faz bem à democracia. O que não faz bem e pode comprometer as práticas democráticas são advogados e procuradores jogando para a torcida com ilações espetaculosas ou ministro da corte suprema avaliando publicamente o andamento dos trabalhos como se fosse narrador de futebol – imaginando-se talvez num bate-papo de botequim. Também fogem aos padrões da boa democracia réus que usam de artimanhas para não comparecer ao próprio julgamento e que adotam a tática marota de assumir crimes já prescritos como se fosse coisa normal, na esperança de se livrarem das grandes acusações. A prática do caixa 2, pela confissão despudorada de alguns, sem medo de punições, agora é vendida por aqui como algo corriqueiro, do tipo “todo mundo faz” e não merece pena. Estaria, digamos assim, no script habitual da política brasileira. O tráfico de influência na compra de apoio parlamentar também ganhou eufemismos. O dinheiro vivo na cueca ou sacado na boca do caixa virou farsa.

O espetáculo do julgamento do mensalão está apenas no seu primeiro ato e, naturalmente, ainda não se sabe quem triunfará ou perderá no final. Mas uma coisa é certa: muitas máscaras devem cair. E, de cara limpa, juízes, réus, defensores e acusadores terão seus papéis e o enredo que montaram avaliados pela grande plateia da opinião pública brasileira. O que ninguém espera é pastelão. Os capítulos novelescos dessa história tendem a ganhar maior audiência com a aproximação do desfecho – e o fim de eventos paralelos, como a Olimpíada, que desviaram por esses dias a atenção geral. O próprio ministro do Esporte, Aldo Rebelo, falou desse desvio de atenção, mas usou uma frase infeliz nos dois sentidos – tanto para a turma do mensalão quanto para os atletas brasileiros. Disse Rebelo: “O que seria melhor? O mensalão tirar os holofotes do péssimo desempenho olímpico do Brasil ou o contrário?”