Encerrada a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a cidade ganha muito mais cinema experimental. Transformado em sala escura, o espaço expositivo do Itaú Cultural apresenta um conjunto de "filmes" que jamais poderiam ser incluídos em uma mostra convencional. A penumbra favorece o mergulho na ficção, mas para assistir às obras em exibição na mostra Cinema sim – narrativas e projeções o espectador não afunda em poltronas nem entrega-se à contemplação. Neste cinema, o espectador é instalado no centro das imagens e, para uma fruição plena das narrativas, deve caminhar pelo espaço, aproximar-se e estabelecer com o filme uma relação de participação. "São situações diferentes das experimentadas dentro de uma sala de cinema. Esta não é uma exposição de cinema ou de artes visuais. Estamos procurando as intersecções possíveis", diz o curador Roberto Cruz.

Talvez o trabalho mais paradigmático desse cinema que expandiu para o campo das artes visuais seja You and I, horizontal III, da série Solid light films (filmes de luz sólida), de Anthony McCall. Embora projetado sobre tela, o filme ocupa na realidade todo o espaço da sala, transformando- se em um objeto tridimensional e luminoso, que pode ser atravessado pelo público. Ao destacar as qualidades escultóricas da projeção, McCall é um artista pioneiro da experimentação das fronteiras entre cinema e escultura, atuante desde o momento em que o teórico Gene Youngblood criou o conceito do "cinema expandido", em 1970.

Cinema expandido, cinema de exposição, cinema móvel, cinemas do futuro, neurocinemas são alguns dos termos cunhados pela teoria crítica para dar conta dessa "tradição" que já remonta, no mínimo, a 40 anos, e que está hoje muito bem representada nas 18 instalações de Cinema sim. Enquanto o coreano Yongseok Oh, em Drama nº 3, fragmenta a paisagem, criando temporalidades diversas dentro de uma mesma imagem, o brasileiro Milton Marques e o suíço Peter Fischer elaboram novos dispositivos de projeção. Marques criou um projetor em uma caixa de frutas e Fischer projeta imagens sobre vapor e areia. Já Rosangela Rennó trabalha na fronteira entre a fotografia e o vídeo.

Se o cinema ocupa o espaço da arte, a recíproca também é verdadeira. Na sexta-feira 7, as trajetórias de três artistas brasileiros chegam à tela grande, no longa-metragem documental A margem da linha, da cineasta Gisela Callas.