Os consumidores de medicamentos feitos com ervas devem ficar atentos. Eles têm eficácia contra problemas de saúde, mas, ao contrário do que muitos imaginam, também são capazes de provocar efeitos colaterais. “Apesar de ser um remédio natural, não significa que não possa causar males se for usado de forma incorreta”, diz o farmacologista João Batista Calixto, da Universidade Federal de Santa Catarina. Levantamentos recentes mostram que os danos podem ir além de uma simples dor de barriga. Nos últimos meses, os problemas mais frequentes têm ocorrido com a utilização da kava-kava. A planta, normalmente usada contra ansiedade, pode ser tóxica ao fígado em doses altas ou se for tomada por muito tempo. Nesses casos, pode causar hepatite e levar ao transplante de fígado.

Agora, o governo britânico quer bani-la do mercado. Foram contabilizados 68 casos no mundo de problemas de fígado relacionados ao uso da planta. Seis deles resultaram em transplante e três foram fatais. A entidade alertou a população a não consumir a erva por enquanto. Nos Estados Unidos, a bomba também estourou. O FDA, entidade que fiscaliza remédios, investiga o caso de uma mulher que consumiu um produto à base de kava-kava. Ela teve de fazer um transplante de fígado repentinamente. O farmacologista Calixto acredita que esses problemas só vieram à tona agora porque faltam estudos de longo prazo para se conhecer melhor as plantas.

No Brasil, desde que surgiram esses rumores, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entrou em ação. Para evitar confusões futuras – até o momento não há registros de complicações –, criou há quatro meses uma resolução para reforçar o uso de tarja vermelha (vendidos com receita) em alguns remédios fitoterápicos. Os produtos fora de padrão estão sendo retirados do mercado. Foi o que aconteceu com o laboratório Herbarium, de Curitiba. A empresa teve recolhido o medicamento com kava-kava devido à falta da tarja. A Anvisa está analisando os remédios para saber se eles podem ser consumidos.

A instituição aproveitou a ocasião para reforçar a importância de se vender com tarja outro remédio: a erva-de-São-João (ou hipérico), indicada contra depressão. “A espécie diminui a eficácia em até 40% de medicamentos contra Aids”, exemplifica o médico Anthony Wong, do Hospital das Clínicas, de São Paulo (leia quadro acima). Para evitar esses transtornos, é fundamental tomar algumas medidas. Uma delas é a população se conscientizar que só deve tomar remédios fitoterápicos com acompanhamento médico.