31/05/2006 - 10:00
Eles ganham a vida vasculhando o fundo dos mares à procura de navios que foram a pique carregados de tesouros – e o negócio é tão lucrativo que quatro empresas já se firmaram como gigantes da pirataria moderna. Também historiadores, arqueólogos, geólogos e engenheiros começam a trocar o mergulho acadêmico nos livros pelo mar. Motivo: além de salário mensal, eles podem embolsar 5% do valor das relíquias descobertas, e isso sem contar a adrenalina de uma vida de aventura. Vale a pena ser um corsário do século XXI e prova disso são os mergulhadores da firma americana Mel Fischer. Eles acabam de encontrar 17 peças do Nossa Senhora de Atocha, um galeão espanhol que afundou em 1622 no litoral da Flórida. Entre os artefatos há 15 moedas e dois lingotes de ouro de 17 centímetros cada um, contendo intactos os selos de impostos do então rei da Espanha, Felipe IV. A coleção está avaliada em US$ 250 mil e chegará nas próximas semanas à Sotheby’s de Nova York, uma das mais prestigiadas casas de leilão dos EUA.
A Mel Fischer também recuperou do galeão Atocha 7,8 mil moedas de prata, dez canhões de bronze e 27 correntes de ouro que lhe renderam US$ 450 milhões.
O navio afundou porque topou com um furacão que o lançou contra um rochedo.
Um mês depois, outra tempestade revirou as águas onde ele repousava, espalhando boa parte dos objetos no fundo do mar. “Os novos achados estavam a mais de 80 quilômetros do local onde meu pai encontrou o tesouro principal”, diz Sean Fischer, responsável pela empresa campeã em farejar naufrágios. As principais concorrentes são as também americanas Columbus-America Discovery Group, que localizou o navio SS Central América, e a Odyssey, que explora as embarcações Concepción e SS Republic.
Ao contrário dos piratas de séculos passados, essa turma se lança ao mar munida de equipamentos de última geração que fazem uma verdadeira “tomografia computadorizada” do solo oceânico. Quando determinam um alvo, os pesquisadores enviam robôs ou minissubmarinos que chegam a mais de quatro mil metros de profundidade. Foi usando um desses submergíveis que o americano Robert Ballard chegou, em 1985, aos restos do Titanic, o maior transatlântico já construído e que afundou em 1912, ao se chocar com um iceberg.
A região do Caribe é a menina-dos-olhos dos novos piratas. Segundo os historiadores, entre 1530 e 1800 aumentara, e muito, o fluxo de caravelas que levavam ouro e prata extraídos das colônias espanholas. Estima-se que apenas naquele período tenham sido transportados US$ 8 bilhões em metais preciosos. Cinco por cento deles estariam perdidos em navios que tombaram pelas tempestades ou por ataques inimigos. Também o Brasil é uma mina de ouro submersa. Recentemente, o caçador de tesouros Ivo de Gouveia garantiu ter em suas mãos as coordenadas do Santa Rosa, uma fragata portuguesa que afundou em 1726 entre Pernambuco e a Paraíba, levando 6,5 toneladas de moedas de ouro. Valor estimado: US$ 1 bilhão.
Para apanhar essa fortuna seria preciso desembolsar US$ 4 milhões e ainda dividir tudo meio a meio com o governo brasileiro – existe uma lei determinando que aquilo que está no fundo do mar a cerca de 22 quilômetros da costa pertence ao governo. “Nesse esquema, é muito difícil atrair investidores”, diz Gouveia. Segundo ele, as empresas americanas andam xereteando os possíveis locais onde estaria o Santa Rosa se valendo de companhias brasileiras de navegação como “fachada”. O certo é que os EUA fecharam um acordo com os exploradores tentando agradar a quem mergulha e a quem fica em terra: o governo paga os custos das expedições e metade do valor estimado dos objetos históricos vira propriedade pública. Como é muita riqueza que está em jogo, o negócio compensa – e ninguém que seja bem-sucedido sai dele com perna de pau.