Poucas celebridades mundiais são tão vigiadas quanto o presidente do Federal Reserve, ou simplesmente Fed, o banco central dos Estados Unidos. Suas palavras e atos são analisados diariamente pelos investidores e operadores dos mercados financeiros do mundo todo. Eles buscam pistas sobre os seus próximos passos na condução da política monetária. Qualquer deslize ou frase mal interpretada pode abalar Bolsas de Valores e taxas de juros e de câmbio em dezenas de países. Foi o que aconteceu na semana passada. Ben Bernanke, no cargo há menos de quatro meses, fez uma besteira monumental. Abriu a boca no lugar errado, na hora errada e para a pessoa errada. E os mercados, como sempre, desabaram – inclusive no Brasil.

Na segunda-feira 22, as Bolsas despencaram do Oriente ao Ocidente. Como peças de dominó, caíram em Tóquio (queda de 1,84%), Moscou (9,1%), Paris (2,65%), Londres (2,20%), São Paulo (3,28%), Buenos Aires (3,91%), México (4,03%) e Nova York (0,17%). No resto da semana, os mercados continuaram nervosos. No Brasil, o dólar disparou e chegou a R$ 2,40 na terça-feira 23, quando subiu 4,71%. Foi a maior alta num único dia desde setembro de 2002. Em ritmo de montanha-russa, a moeda americana voltou a cair. Na quinta-feira, despencou 4,54%, fechando a R$ 2,29. O País, felizmente, não é mais tão vulnerável como nas crises do final da década de 1990. Depois de seis pregões em queda livre, período em que despencou quase 15%, a Bovespa recuperou-se fortemente na quinta-feira 25, subindo 4,96%. E quem estava por trás de todo esse nervosismo? Ele mesmo, Ben Bernanke.

O presidente do Fed é visto com certa desconfiança por muitos participantes do mercado financeiro desde que substituiu o lendário Alan Greenspan, que ficou 18 anos no cargo. Teme-se que Bernanke não tenha o mesmo pulso firme e a habilidade de Greenspan para controlar a inflação ascendente sem provocar uma recessão na economia. Os juros básicos do Fed já subiram 18 vezes consecutivas, uma delas na gestão de Bernanke, e chegaram a 5% ao ano. A pergunta de US$ 1 trilhão é: até onde continuarão subindo? Greenspan usava discursos ambíguos para controlar as expectativas e ninguém sabia, exceto ele mesmo, quais eram seus objetivos específicos. Bernanke, um acadêmico respeitado, precisa aprender a falar “greenspanês” para conquistar credibilidade nos mercados. Em vez disso, fez um imprudente desabafo a uma bela jornalista, que virou notícia e alimentou as incertezas dos mercados nas últimas semanas.

Na terça-feira 23, Bernanke admitiu à Comissão de Finanças do Senado que cometeu um “lapso de julgamento” ao afirmar à repórter de tevê Maria Bartiromo, do canal financeiro CNBC, que estava desapontado com o fato de alguns investidores acharem que ele é condescendente com a inflação. A conversa ocorreu em 29 de abril, no jantar da Associação dos Correspondentes da Casa Branca. Bartiromo divulgou as declarações em seu programa de tevê e muitos analistas as interpretaram como um sinal de que os juros iriam parar de subir. Greenspan, que é casado com uma jornalista, jamais deixou escapar uma indiscrição desse tipo. “Bernanke foi ingênuo ao falar com a jornalista ou ao aceitar o cargo?”, provoca o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. O tempo vai dizer se ele sabe mesmo o que faz.