Para chegar a seu veredicto, a antropóloga autora de Por que amamos liderou uma equipe de neurocientistas que investigou as reações nos cérebros de 40 homens e mulheres apaixonados. Por meio de ressonâncias magnéticas, constatou que, quando amamos, áreas do cérebro acendem com o aumento do fluxo sangüíneo. O estudo mostra que a dopamina, neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer e motivação, nos embriaga nessa fase e gera o êxtase, outro conhecido dos amantes.

A definição corrente entre especialistas é de que o amor é produzido por substâncias químicas específicas dentro do cérebro – um tremendo choque para quem sempre acreditou que amar era algo puramente emocional. Num texto do professor César Ades, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, ele diz que há uma predisposição para o amor prefigurada em nosso sistema nervoso, em nossos hormônios, na diferenciação biológica do masculino e do feminino. “Essa característica está presente em todas as culturas”, diz. As formas que o amor assumiu ao longo da história, porém, variaram muito. “O amor é regulado por princípios e costumes culturais. Ama-se de acordo com modelos da época e do grupo”, conclui.

Que outro sentimento poderia atingir ricos e pobres sem distinção? Só mesmo a paixão, essa sensação forte, maluca, irreprimível que precede o sentimento amoroso. Essa fase, no entanto, tem prazo de validade. “Um ou dois anos”, assinala o neurologista Eduardo Mutarelli. É ele quem confere aval científico àquilo que a maioria aprendeu na prática: a paixão aumenta as batidas do coração (pela descarga de adrenalina) e causa o popular friozinho na barriga. Logo a paixão cede lugar ao amor, que pode se desgastar com o avanço da intimidade. O que era sedutor passa a incomodar na vida cotidiana. Um exemplo é a porta do banheiro aberta. Sensual, vira “falta de cerimônia” e, com o tempo, acaba desgastando a relação. Os homens – mesmo os que roncam a noite toda – são os primeiros a perder o encanto.

Ao comparar o cérebro feminino com o masculino, Helen Fischer percebeu que se sentir “mais leve do que o ar” quando confiante no envolvimento do parceiro é algo mais comum nas mulheres do que nos homens. Elas também pensam mais obsessivamente sobre o amor, o que pode ser um grande problema na maioria das relações. Obsessão vira ciúme e provoca brigas – ponto de partida para minar qualquer sentimento amoroso. Pelo mesmo motivo, muitos dizem que o casamento pode prejudicar o amor. Com alianças ou não, o amor percorre o mundo todo. Está aqui, na China, em Marrakesh ou na Islândia, sempre provocado pela mesma revolução no cérebro. Para a escritora Helen Fisher, seu alimento é a eterna capacidade de se adaptar. “O amor conta com seis bilhões de aliados que não desistem de procurá-lo e de exaltá-lo”, diz. Da mesma forma que os antigos egípcios faziam. “No fundo, a sensação é de que, nos assuntos do coração, as coisas mudam. Mas permanecem no mesmo lugar.”