21/11/2002 - 10:00
Os médicos estão percebendo que não adianta tratar apenas do doente, mas também da saúde de quem cuida dele. Essa tendência vem ganhando cada vez mais força, em especial devido à publicação de vários estudos científicos mostrando que em muitos casos os cuidadores acabam adoecendo. Em geral, essas pessoas são familiares que ficam responsáveis pelos cuidados com o paciente. Normalmente sobrecarregados com tarefas e ainda passando por difíceis momentos emocionais, eles são vítimas de um grande stress. O distúrbio compromete as defesas do organismo, tornando-os mais vulneráveis às enfermidades. Um estudo brasileiro concluído recentemente comprova mais uma vez essa situação. O trabalho é uma tese de mestrado defendida
pela psicóloga Anita Taub, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A especialista analisou as causas de adoecimento de cuidadores
de pacientes com o mal de Alzheimer – doença degenerativa caracterizada, entre outras coisas, pela demência. Anita achava
que o fato de os responsáveis ficarem doentes estava ligado ao
grau de comprometimento do paciente. Quanto mais grave o estado
de saúde dele, maior a sobrecarga do familiar e, por isso, mais chances de o cuidador ter um problema de saúde. Porém, o resultado do estudo trouxe uma surpresa. “Na verdade, os cuidadores adoeciam porque
não tinham informações sobre a doença e ficavam estressados sem
saber como agir com o paciente”, conta Anita, que também trabalha
no Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
Para chegar a essa conclusão, durante dois anos ela analisou 50
pessoas, com média de idade de 56 anos, que já tomavam conta de doentes com o mal de Alzheimer havia cerca de quatro anos. “Eles
não estavam preparados para lidar com uma doença que provoca
perda de memória e por isso faz o paciente mudar tanto”, enfatiza
a especialista. Na sua opinião, uma das formas de resolver a questão
é encaminhar os cuidadores a grupos de apoio, como a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), de São Paulo. No local, eles assistem
a palestras sobre a doença, aprendem como cuidar do doente e têm
a oportunidade de trocar experiências com outras pessoas. “A informação é um suporte importante para quem cuida. Os médicos devem incentivar os cuidadores a buscar ajuda nos grupos de apoio”, reforça Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp e orientador da tese de mestrado.
Quem concorda com o médico é a dona-de-casa Yone de Moura
Beraldo, 60 anos. Em 1990, ela descobriu que sua mãe, Adeilde de
Moura, 82 anos, estava com mal de Alzheimer. “No início, como não conhecia a doença, ficava muito nervosa quando minha mãe se
recusava a fazer o que eu pedia. Isso me deixava cansada e não
tinha vontade de fazer nada”, lembra-se. “Depois de começar a frequentar o grupo de apoio, aprendi que a teimosia é um dos
sintomas do mal e aprendi a lidar com ela”, conta. Quando ela se
recusa a tomar banho, por exemplo, em vez de continuar insistindo,
Yone espera um pouco e depois pergunta novamente. “Com jeitinho,
ela acaba aceitando”, garante. Hoje, a dona-de-casa, que conta
com o auxílio do marido, Paulo Beraldo, para cuidar da mãe, está
bem mais disposta. Afinal, quem cuida também merece cuidado.