21/11/2002 - 10:00
A repentina notícia de que um parente próximo está com uma doença grave abala qualquer um. Além do sofrimento de ver alguém querido padecer, os familiares precisarão se acostumar a uma nova rotina, da qual farão parte, por exemplo, longas e às vezes indecifráveis conversas médicas. Sem contar as dezenas de sugestões de amigos sobre o que fazer, qual o melhor médico ou o hospital mais adequado. No meio de tantas preocupações, muitas vezes a família acaba confusa, sem saber como agir.
Porém, existem várias estratégias para auxiliar os familiares a gerenciar esse período. Algumas podem ser obtidas dentro dos hospitais, já que muitos começaram a oferecer serviços de apoio psicológico para ajudar os parentes a lidar com essas situações. “Orientamos as pessoas para que tenham calma. Uma ação equivocada só prejudicará o tratamento do doente”, comenta Paola de Araújo Andreoli, psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
A especialista recomenda que os parentes procurem atendimento sempre que se sentirem confusos em relação ao que fazer. É comum que a família ouça opiniões divergentes sobre a conduta a ser adotada – se transfere ou não o doente para outro hospital, por exemplo –, e ninguém chega a uma conclusão. Outra situação frequente são familiares que entram em crise porque não aguentam a pressão. Nos dois casos, os psicólogos conversarão com os parentes com o objetivo de auxiliá-los a se reorganizar emocionalmente para que encontrem a solução em conjunto. “A família precisa estar unida e equilibrada para passar tranquilidade ao doente”, diz Alexandrina Meleiro, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, entidade que também conta com o serviço de apoio.
Nesse trabalho, a primeira orientação dos especialistas é para que os familiares não tomem decisões por impulso. O ideal é refletir para decidir o que fazer. E para acompanhar o tratamento com mais segurança é importante que a família se informe ao máximo sobre a doença. Quanto às diversas opiniões sobre o melhor médico ou o tratamento adequado, os parentes devem peneirar as sugestões e, de acordo com as informações levantadas a respeito do problema, analisar quais são as mais sensatas e pesar se vale a pena segui-las. Mas não adianta, por exemplo, chamar vários médicos para avaliar o caso. A medida pode prejudicar ainda mais a situação. Além disso, para evitar maiores confusões, os psicólogos recomendam que um integrante da família melhor preparado emocionalmente tome a dianteira. Outros familiares também podem intervir, mas é sempre melhor quando o papel de interlocutor cabe a apenas uma pessoa.
Foi o que fez a empresária Silvia Khafif, 56 anos, de São Paulo. Quando soube que sua filha Linda, 35 anos, se submeteria a um transplante de fígado, ela assumiu a situação e enfrentou o problema. “É preciso manter o sangue frio, tirar dúvidas e buscar o máximo de informações sobre a doença. Dessa forma, ficamos mais preparados”, ensina. Nos momentos de maior angústia, Silvia recorreu aos psicólogos. “Faz bem desabafar com alguém”, diz. Sua filha fez o transplante e está se recuperando. “O carinho da minha mãe e do meu marido foram fundamentais no meu tratamento”, conta.
A geriatra Maristela Soubihe, do Hospital Santa Paula, de São Paulo, entidade que também oferece o serviço de psicologia, reconhece que o apoio da família é mesmo importante para o doente. “Ele se sente mais seguro e disposto a se recuperar logo”, justifica a médica. Porém, ela enfatiza que, infelizmente, nem sempre isso é tão simples assim. “Muitas vezes, a família fica sobrecarregada com a situação e não consegue cumprir os compromissos diários e ao mesmo tempo cuidar do parente”, afirma. Maristela convive com essas situações no seu dia-a-dia. “Às vezes, a pressão é tão grande que já vi até casamentos serem desfeitos”, conta. Para solucionar o problema, ela montou a empresa Conte Comigo, que conta com profissionais de enfermagem para acompanhar e cuidar do doente no hospital ou em casa durante 24 horas. O serviço também oferece a supervisão de uma psicóloga que verifica se tudo está correndo bem. O custo varia de R$ 4 a R$ 9 a hora, dependendo do tipo de atendimento a ser feito.
A estudante Ilka Lima, 24 anos, de São Paulo, aprovou o serviço. Ela mora sozinha com seu irmão, 25 anos, vítima de uma doença crônica – ela prefere não revelar o mal – e que às vezes precisa ser internado repentinamente. “Não temos ninguém da família em São Paulo e não posso sair do trabalho para levá-lo ao hospital. Fiz essa opção e estou satisfeita. Fico mais tranquila em saber que tem alguém cuidando dele”, diz. Ilka seguiu as recomendações dos psicólogos. Conseguiu manter a calma, tomar a decisão certa e gerenciar a crise.