21/11/2002 - 10:00
Ele não passou por São Paulo quando aconteceu a recente edição da Exposec, feira que reuniu 600 empresas da área de equipamentos eletrônicos de segurança. Mas se deliciaria com o que foi mostrado nos 24 mil metros quadrados de exposição. Uma roupa à prova de balas? Tem. Não é das mais elegantes, mas protege contra tiros de armas pesadas. Os mais adequados complementos para esse traje de guerra seriam os microfones camuflados, do tamanho de um grão de feijão, capazes de registrar sons em ambientes barulhentos, e câmeras de menos de um centímetro, vendidos pela Missão Impossível, especializada na importação de equipamentos para espionagem. Tem também os relógios em que mostrar a hora é muito menos importante do que fotografar ou gravar imagens e sons. Para completar o figurino, um cão da raça pastor belga, treinado na Bélgica para a defesa de possíveis ataques ou sequestros. O custo da aquisição: US$ 11.750 mil (pouco mais de R$ 42 mil), sendo US$ 800 para a roupa, US$ 1 mil para o microfone, US$ 2 mil para as câmeras e a mala que serve de estação receptora, US$ 450 para o relógio e US$ 7,5 mil pelo cachorro.
A violência crescente estimulou a criação dos mais diferentes produtos e, insolitamente, provocou uma festa nas empresas que sobrevivem à custa de nossos medos. “Estamos crescendo em saltos desde 1995 e o aumento da violência tem uma relação direta com esse crescimento”, diz José Roberto Sevieri, diretor executivo do Grupo Cipa, organizadora do evento. Alarmes sofisticados que disparam com o calor do corpo e circuito fechado de televisão para monitorar uma simples sala ou um quarteirão inteiro são corriqueiros. Você já ouviu falar em sensores biométricos? São equipamentos que controlam o acesso a empresas e órgãos públicos através do reconhecimento da íris ou da face de pessoas cadastradas. Também fazem sucesso os detectores de explosivos e drogas. Um deles, o Itemiser, importado dos Estados Unidos pela Proscan, detecta qualquer sinal de bomba ou drogas. Já é usado no Brasil pelos Correios, tem custo entre US$ 40 mil e US$ 12,5 mil, tecnologia americana e é usado em aeroportos, embaixadas e consulados.
É um arsenal de guerra para ser usado no dia-a-dia. Ninguém é louco de enfrentar bandidos, mas a Agrasp, distribuidora da inglesa
Martín Security Smoke, trouxe uma arma que diz ser infalível para espantá-los: é um equipamento emissor de fumaça com tamanho pouco maior que uma caixa de sapato que, depois de detectar a presença do ladrão, cobre de fumaça uma sala em menos de 30 segundos. “A fumaça é tanta que o ladrão não enxerga nada e, supõe-se, foge com medo de ser descoberto”, explica Denis Frate, diretor da empresa. E se o ladrão correr para outra sala? Aí, caro leitor, só rezando.
Tudo é recheado de hits da tecnologia nesse setor que emprega mais de cinco mil trabalhadores e movimentou US$ 750 milhões no ano passado. Com modernos rastreadores de automóveis, cargas e pessoas, detectores de explosivos e de drogas e uma parafernália de equipamentos dignos dos filmes de espionagem, essa indústria cresce ao ritmo do aumento dos índices de violência e criminalidade no País. Imagine, então, o quanto cresce. Multinacionais como Toshiba, Sony, Samsung são algumas das 40 empresas que dominam o setor e ocupam 70% do mercado. A expectativa dos empresários é de encerrar 2002 com crescimento de 15% a 20%, apesar do dólar alto.
É um mercado que vem dobrando de tamanho nestes últimos anos e ganhando novos participantes. Caso da Gradiente, conhecido fabricante de eletroeletrônicos. A empresa começou fabricando monitores para circuitos fechados de tevê há três anos. Em pouco mais de dois anos, a divisão de segurança virou uma companhia praticamente independente, aumentou a linha de produtos e já dobrou de tamanho duas vezes. A coreana Hisco, no Brasil há seis meses, está pensando em montar uma fábrica de câmeras e gravadores digitais de imagens.
Toda essa parafernália para garantir a segurança de companhias e pessoas físicas deve crescer ainda mais nos próximos anos e aumentar o lucro das empresas. Nos Estados Unidos, por exemplo, 85% da edificações são construídas com sistemas de alarmes e
circuitos fechados de tevê. No Brasil, esse porcentual não passa de 3%. A idéia é atingir 4,5 milhões de imóveis, com preços mais acessíveis para facilitar as vendas para a classe média. Bom mesmo seria não precisar de nada disso para viver em paz e
usufruir as emoções de James Bond numa poltrona de cinema.