31/05/2006 - 10:00
Um é de São Paulo e construiu a carreira política no Nordeste. O outro é nordestino, mas elege-se por São Paulo. O primeiro é polêmico, agressivo, diz o que pensa. Coleciona adversários. O outro é discreto, polido, mede as palavras. Campeão da unidade. Dois homens, dois perfis e um só destino em disputa. No xadrez da sucessão presidencial, estão entre o polêmico ex-ministro Ciro Gomes, do PSB, e o reservado presidente da Câmara, Aldo Rebelo, do PCdoB, as opções preferenciais do presidente Lula para escolher o candidato a vice que estará na sua chapa de reeleição. Um posto cada dia mais cobiçado. De acordo com a pesquisa CNT/Sensus divulgada na terça-feira 23, Lula chega a 40,5% das intenções de votos, enquanto seu principal adversário, Geraldo Alckmin, do PSDB, aparece com 18,7%. No Datafolha, Lula tem 43% e Alckmin, 21%. Se o favoritismo se confirmar, o vice de Lula passa a ser sério concorrente a sucedê-lo. Um vice que hoje pesa como um candidato principal em 2010.
As maiores chances, neste momento, são de Ciro. Mesmo fora do governo,
cuidando oficialmente de sua campanha para deputado pelo PSB cearense, ele encontra o presidente todas as semanas, em Brasília, para confabulações. Se
Lula quiser alguém bom de briga, que atice um fogo de encontro aos ataques que certamente vai sofrer. Ciro, com sua verve agressiva, é o homem mais que certo.
No dizer de um integrante do conselho político do presidente, o ex-ministro tem
hoje 70% das chances de ser o escolhido. Para esta fonte, outros 20% recaem
sobre o vice José Alencar.
Onde estão os outros 10%? É aí que entra Aldo.
Suas chances envolvem uma arquitetura mais sofisticada, mas estão em franco crescimento. Ele
até foi chamado, na quarta-feira 24, para participar
das discussões do conselho político do Palácio do Planalto, ao lado do que sobrou dos próceres do PT. Uma das pilastras de sustentação da candidatura
de Aldo a vice é uma inconfessável articulação que passa pelo tucano José Serra, candidato a governador de São Paulo e, desde já, presidenciável para 2010. O comunista é interlocutor contumaz do palmeirense. Ambos foram presidentes da UNE, conviveram como deputados federais e têm idéias políticas comuns. Para longas avaliações, Aldo e Serra sempre avistam-se em São Paulo. As conversas são entremeadas por telefonemas e relatadas para Lula por Aldo, que se fixa, assim, uma ponte com a oposição. Com menos apetite que Ciro para suceder Lula, Aldo agrada a Serra e ao também candidatíssimo em 2010 Aécio Neves. Com ele na chapa, tanto o primeiro como o governador de Minas podem, na atual disputa, suavizar as críticas ao presidente e apoiar Alckmin com menor ênfase. Assim, para rachar de vez o tucanato, Aldo com seus silêncios fala mais alto que Ciro e seus rugidos. Qual deles Lula vai escolher, eis a disputa que começa agora.