21/11/2002 - 10:00
O juiz Alexandre Libonatti de Abreu, da 2ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, fez história ao dar a sentença no processo do grampo no BNDES. No episódio, empresários, funcionários do governo e até o presidente Fernando Henrique foram vítimas de escuta telefônica clandestina, durante o processo de privatização do sistema Telebras, em maio de 1997. Como responsáveis pelo grampo, ele condenou Temilson Resende, o Telmo, analista de informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a três anos e quatro meses de prisão em regime semi-aberto e o detetive particular Adilson Matos a dois anos e oito meses em regime aberto. Pela primeira vez no Brasil alguém é condenado por agir como araponga. “Essa é uma vitória da sociedade. Até pouco tempo atrás, agentes da comunidade de informações eram intocáveis”, comemora o procurador Arthur Gueiros, um dos autores da denúncia. Libonatti absolveu por falta de provas o chefe da Abin no Rio, João Guilherme Almeida, e o diretor de operações da agência, Gersi Firmino da Silva. Apesar das condenações, o mistério em torno de um negócio envolvendo bilhões de dólares continua. Os mandantes e, principalmente, os beneficiários continuam impunes.
Os dois vão recorrer. Telmo reclama que a condenação aconteceu por causa do depoimento de apenas uma pessoa: o araponga Célio Arêas. “A história que ele conta é maluca. Imagina se ia oferecer R$ 100 mil para alguém subir num poste e fazer uma instalação telefônica”, ataca Telmo. “Pelo menos fico feliz que meus chefes tenham sido absolvidos.” Já Matos alega que estava internado na UTI quando o grampo foi feito. “Nem conheço a pessoa que me acusa”, defende-se. Depois das denúncias, Arêas afirmou que estava sofrendo ameaças de morte e sumiu. Por ter colaborado, acabou recebendo perdão judicial. Gueiros também afirma que vai recorrer para tentar condenar João Guilherme e Firmino. “É alarmante notar que a comunidade de informações continua a investigar as pessoas de forma ilegal. Sempre foi assim e nada indica que mudará no governo do PT”, adverte Gueiros.