Não dá mais para suportar. A relação entre os médicos e as empresas operadoras de planos de saúde nunca foi das melhores, mas agora os desentendimentos parecem ter passado dos limites. Dos médicos, é claro. Eles estão insatisfeitos a ponto de arregaçar as mangas e protestar. A categoria marcou para quarta-feira 8 um dia nacional de luta contra os planos. A orientação dada pelas entidades que lideram o movimento é a de que a categoria faça um boicote. Devem escolher aqueles que consideram os três piores planos de acordo com a própria experiência e transferir as consultas remuneradas por essas operadoras para os dias seguintes. “Casos de urgência, hospitais e pronto-socorros ficam fora do protesto”, assegura Eleuses Paiva, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), uma das entidades que coordenam o protesto. Mesmo quem conseguir se consultar sairá informado. “Vamos falar com cada paciente sobre a situação”, diz Paiva.

A principal queixa dos profissionais são as restrições cada vez maiores criadas pelas empresas para liberação de procedimentos, internações e cirurgias e o baixíssimo valor dos honorários recebidos por consulta. De acordo com Paiva, há uma morosidade intencional para autorizar o período chamado de pré-operatório (internação 12 a 24 horas antes da cirurgia) e uma forte pressão para diminuir o tempo de hospitalização. Quanto aos honorários, a AMB alega que há seis anos não são feitos reajustes. “No mesmo período, estudos indicam aumentos de 96,3% nas mensalidades”, argumenta Paiva. Atualmente, o valor médio da remuneração por consulta é de R$ 15, mas há convênios que chegam a pagar desde R$ 6 até R$ 25. E os médicos alegam que há atrasos no pagamento por períodos que variam de dois a seis meses.

A manifestação marcada para o dia 8 é apoiada por todas as entidades representantes da categoria, como as sociedades que congregam médicos especializados. A ação visa conquistar o apoio da população e obter mais força para negociar com as operadoras e o governo. “Precisamos ter os pacientes como aliados. Ambos somos vítimas dessa situação”, diz Paiva. A idéia do movimento surgiu dos dirigentes da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Entre os mais atingidos pelas atuais políticas dos planos, os ortopedistas protestam contra as pressões para aceitar pacotes de atendimento a preço único. Tanto faz se o paciente tem torcicolo ou pé quebrado. “Há planos oferecendo entre R$ 20 e R$ 30 por paciente. Não importa se o paciente precisa de uma consulta ou de radiografias e gesso”, afirma o ortopedista Paulo Roberto dos Santos, de São Paulo, que vai aderir ao boicote. O próximo passo da luta será a divulgação, no final de maio, de uma pesquisa nacional sobre os piores planos de saúde por região encomendada pela AMB. Procurada por IstoÉ, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo não quis se pronunciar.