17/05/2006 - 10:00
Não foi o primeiro e, ao que tudo indica, Silvio Pereira não será o último a fazer das CPIs um grande palco de espetáculos fantasiosos. No passado, alguns chegaram lá representando um certo enfado com a coisa toda. Outros incorporaram o papel de vítimas vestais. Pereira – o ex-todo-poderoso secretário-geral do PT, que afirmou que o objetivo era faturar R$ 1 bilhão com o esquema do valerioduto – preferiu a via do delírio. Diante dos parlamentares, alegou até que não lembrava da entrevista concedida ao jornal O Globo dias antes. Em outro momento, disse que não a leu. Continuando em sua encenação, apontou que algumas coisas ele não sabia nem de onde tirou, se eram verdade ou não, se lera nos jornais ou se criou de sua cabeça. O depoimento todo foi um deboche à Comissão e, por conseqüência, a todo o País. A verdade tem sido um elemento rarefeito nessas ocasiões, muitas vezes em virtude da sensação de impunidade dos depoentes. Cada um fala lá o que quer, sem conseqüências – e isso quando fala, porque a maioria tem usado a prerrogativa jurídica de ficar em silêncio para evitar declarações incriminadoras. Silvio Pereira, na sua convocação, depois de ter faltado a outros dois pedidos de comparecimento ao Congresso, recusou-se até a assinar o documento de compromisso com a verdade. Colocou-se no papel de desequilibrado. Depois saiu livre e solto, com o Planalto comemorando a tática marota do ex-aliado. É um triste momento esse pelo qual passa o Brasil. Denúncias graves são levantadas, reiteradas e, em muitos casos, confessadas, sem punições. Como num teatro do absurdo, nada faz sentido. Banalizou-se o crime, a ética foi ao fundo do poço e tem muita gente acreditando que isso não tem importância. Simpatizantes do governo vieram a afirmar que Silvio Pereira não contou nada de novo. O incrível é que, velhos ou novos, os episódios por ele relatados são estarrecedores. Existem “100 valérios”, disse ele, atuando por aí, corrompendo nas entranhas do poder. E, na lógica dos manuais de conduta, ou se vai atrás da tal quadrilha ou se prende esse senhor pelo falso testemunho. Quem vai restaurar a moralidade perdida?