Somente quatro museus no mundo possuem a série integral de bronzes de Edgar Degas (1834-1917). O Museu de Arte de São Paulo (Masp) tem esse privilégio, que será estendido ao público a partir da quarta-feira 17 com a abertura da exuberante mostra Degas, o universo de um artista. Nela poderá ser visto um conjunto de 73 estatuetas, entre as quais estará a famosa Bailarina de 14 anos. Não são somente as estatuetas, no entanto, que fazem dessa exposição um marco em homenagem a Degas. Há também as obras vindas do Exterior – oito óleos, entre eles Course de gentlemen avant le départ e Jeantaud, Linet et Lainé, do Museu d’Orsay (Paris); cinco monotipias, do Museu Picasso (Paris); e duas telas, da National Gallery (Londres). Também os principais museus americanos abriram os seus acervos e emprestaram algumas de suas relíquias: o Metropolitan de Nova York, a National Gallery de Washington, o Art Institut de Chicago e o Museum of Art da Filadélfia cederam um total de 12 obras, como as esplêndidas pinturas Woman ironing e Dancers backstage. Assim, com material do próprio Masp e material trazido de fora do Brasil, a mostra é composta de 120 trabalhos, entre desenhos, pinturas, esculturas e telas de artistas que influenciaram Degas (Jean-Auguste-Dominique Ingres e Camille Corot) ou foram por ele influenciados (Pablo Picasso e Henri de Tolouse-Lautrec).

A idéia dos curadores Romaric
Sulger Büel e Eugênia Gorini
Esmeraldo, auxiliados pela consultora Ana Gonçalves Magalhães, foi a de estabelecer uma relação entre o que o artista absorveu da tradição e o que ele impôs como novidade. Degas, um dos mais talentosos nomes do impressionismo, era filho de um banqueiro que combinava riqueza com cultura. Ele pôde freqüentar a Escola de Belas Artes, viajou pelo mundo e foi copista do Museu do Louvre – o que comprovou precocemente o seu apuro técnico. Ele discordava de seus pares, como Manet e Renoir, recusando-se a pintar livremente, e flertava com a arte da fotografia, que dava os seus primeiros passos na Europa. Degas criou transparências e cintilâncias que ecoam nos trabalhos do americano Edward Hopper e do irlandês Francis Bacon. Apaixonado pelo movimento em sua arte, ele pintou bailarinas que parecem flutuar em gesto e leveza (é o caso de The ballet class, no Museum of Art da Filadélfia) e pintou figuras humanas que parecem romper o limite das molduras. Degas libertou o enquadramento de parâmetros estéticos em nome do movimento e da técnica.