17/05/2006 - 10:00
Diversos países europeus estão colhendo amostras de saliva de voluntários que tenham Colombo em seus sobrenomes. Motivo: especialistas em genética querem coletar o DNA dessas amostras, compará-las com restos mortais que se supõe serem do navegador e descobridor da América, Cristóvão Colombo, para resolver de uma vez por todas uma questão: onde, de fato, ele nasceu? Para ter uma idéia da complexidade da resposta, no sábado 20 se comemoram 500 anos de sua morte. Vai ter muita homenagem pelo mundo e cada país “puxa” Colombo para a sua festa. Italianos e espanhóis, portugueses e franceses, ingleses e, agora, até os gregos reivindicam a sua nacionalidade. Foi a Espanha, no entanto, quem saiu na frente nessa corrida. Pesquisadores da Universidade de Granada isolaram o DNA do navegador a partir de 150 gramas de ossos que, supostamente, seriam dele. Depois de decodificado, esse DNA foi comparado ao de seu filho Diego, sepultado na região de Andaluzia. “Os resultados mostraram uma coincidência genética”, diz o professor Jose Antonio Lorente, coordenador da pesquisa.
Num trabalho pioneiro, a equipe de Lorente está montando o mapa genético de todos os Colombo que voluntariamente se apresentam para colaborar com a pesquisa. Isso é para ver se o DNA de algum deles combina com o DNA que se imagina ser do navegador. Se houver essa coincidência, tem-se então uma forte evidência de que o descobridor da América nasceu mesmo na Espanha. Somente no trabalho de coletar amostras de saliva, muitos Colombo apareceram – mais de 120 pessoas, apenas da família Colom (forma catalã de Colombo). Pesquisadores franceses estão seguindo o mesmo caminho e, apenas na região de Perpignan, 18 famílias Coulom (derivação afrancesada de Colombo) fizeram o teste.
Esse material será agora comparado com o DNA retirado dos restos mortais de outro filho do navegador, que se chamou Fernando. Tanto a Espanha quanto a França decidiram mudar de parâmetro genético (deixaram de lado os restos mortais de Diego, já estudado) para produzir uma espécie de contraprova. E o próximo passo será traçar um perfil de coincidências. “Se mais amostras de um mesmo lugar forem semelhantes às de Colombo e de seu outro filho, mais perto estaremos do local de sua origem”, diz Lorente. Ex-professor do FBI, foi ele quem realizou um dos maiores trabalhos de identificação de corpos da história da humanidade, reconhecendo vítimas da guerra civil espanhola (1936-1939) ao cotejar material genético de familiares e de mortos.
Traçar a genealogia de uma família pela análise de DNA só é possível porque no momento de fecundação do óvulo o cromossomo Y é transmitido pelo pai e fica praticamente intacto no genoma de seus descendentes. Pela parte materna é o DNA mitocondrial que permanece sem modificações. Como passam de geração a geração, esses cromossomos servem de pista genética. Atualmente já é possível recuperar até os genes que sofreram mutações, alcançando antepassados de dezenas de milhares de anos. É isso, por exemplo, o que o Projeto Genográfico começa a fazer reunindo universidades e os mais importantes centros internacionais de pesquisa. A National Geographic Society acaba de investir US$ 40 milhões no estudo de 100 mil genes em todo o mundo. O objetivo é partir de um homem atual para descobrir as rotas migratórias de seu ancestral mais remoto, na mais longa viagem genética ao passado, rumo a Adão e Eva. Comparado a tão ambiciosa empreitada, descobrir de onde vem Colombo será, literalmente, um ovo de Colombo.