17/05/2006 - 10:00
O nome é esquisito e vem do francês parcours, percurso. Batiza um novo esporte, o le parkour, que começa a despontar nas grandes metrópoles brasileiras. É como uma brincadeira de homem-aranha levada a sério. Basta correr, pular e saltar muros grandes, escadas, corrimãos ou passarelas de concreto, sem implicar em competir. O segredo está em caprichar nas manobras e na eficiência do deslocamento. A única regra se resume em saltar de um ponto a outro, muitas vezes superando obstáculos no meio do caminho. Ter velocidade é bom, mas cada um deve respeitar seu ritmo. Há quem possua desenvoltura suficiente para saltar até um carro em movimento. Não é preciso equipamentos. Basta um tênis velho com uma sandália havaiana sem alças no lugar das palmilhas para garantir o amortecimento, uma calça de moleton confortável, uma camiseta de preferência com manga comprida e uma luva de couro com cortes nos dedos. Ajuda ter bom condicionamento físico – ou pelo menos tentar adquiri-lo – e ser magro. Aí é aproveitar o espaço e a arquitetura da cidade para deixar a adrenalina fluir.
O le parkour conta com dois mil praticantes no País, a maioria meninos entre 14 e 20 anos, e dez mil fãs de 60 cidades cadastrados em comunidades do Orkut. Um dos porta-vozes da atividade por aqui é o psicólogo paulistano Eduardo Bittencourt, 30 anos, um dos primeiros traceurs – como seus praticantes são conhecidos – brasileiros. Bittencourt comanda um grupo de participantes e ensinou noções do esporte no Sesc, em São Paulo. Ele descobriu o le parkour na internet. Em São Paulo, os traceurs se reúnem onde há abundância de obstáculos de concreto, como o Vale do Anhangabaú, na região central da cidade, o Parque do Ibirapuera e o campus da Universidade de São Paulo, a USP. No Rio de Janeiro, os encontros são, entre outros lugares, no Aterro do Flamengo e na Praia de Botafogo. O grande ídolo mundial do parkour é o seu criador, o francês David Belle. Atleta de ginástica olímpica e acrobata, ele desenvolveu a atividade nos subúrbios de Paris, nos anos 80, influenciado pela tradição da família de bombeiros. Quando adolescente, inspirado pelo pai, gostava de brincar de simular salvamentos. As primeiras pessoas a se interessarem pelo le parkour foram ligadas às artes marciais e ginastas. Como a coisa é nova, alguns traceurs costumam ser confundidos com desordeiros nas ruas. Mas todos eles concordam: as emoções compensam.