02/08/2002 - 10:00
Todos os sonhos valem a pena, basta tomar a iniciativa. Foi com esse lema na cabeça que o mineiro Rodrigo de Araújo Fiúza, 28 anos, largou tudo para seguir o que sempre almejara: viver de aventura. Depois de batalhar por um patrocínio de R$ 70 mil, deixou Belo Horizonte e iniciou uma viagem que nem mesmo ele acreditava ser capaz. Equilibrado sobre as duas rodas de uma motocicleta Yamaha XT de 225 cilindradas, Fiúza percorreu as Américas, do Ushuaia, no sul da Terra do Fogo, até Fairbanks, no Alasca.
Foram 45 mil quilômetros rodados em cinco meses. No meio do caminho, enfrentou tempestades na Costa Rica, neve nos Andes e muito calor nos desertos do México. O mineiro que ganha a vida como professor de esportes radicais hospedou-se em lugares peculiares, como uma casa chilena feita de retalhos, e conheceu regiões de tirar o fôlego, como a gélida Patagônia, na Argentina.
Fiúza completou o trajeto em duas etapas. Deixou o Brasil pela primeira vez no final de 2000, chegou ao Ushuaia e retornou a Belo Horizonte em fevereiro de 2001. No primeiro trajeto, viajou com o amigo Jayson Santos. Em abril de 2002, ele tomou novo rumo, dessa vez sozinho e em direção ao norte, até chegar ao Alasca no início de julho. No meio da viagem, o mineiro que estudou turismo na universidade passou a valorizar os mínimos detalhes. “Meu maior prazer era lavar as mãos”, conta o aventureiro, que ficou uma semana sem ver um chuveiro. Depois de tantos almoços à base de macarrão instantâneo, tornou-se perito em miojo.
Na mala, o jovem mineiro levou apenas uma muda de roupa, peças de reposição, máquina fotográfica e filmadora, além de uma bandeira com a palavra “paz” escrita em vários idiomas e um adesivo contra a violência. “Achei que podia fazer alguma coisa pelo mundo, por menor que ela fosse”, comenta.
Rodrigo Fiúza, que não tem parentesco com o político Ricardo Fiúza, se embrenhou desde cedo nas viagens de aventura. Aos 17 anos, fugiu de casa de bicicleta e, em cinco dias, foi da capital mineira a São Paulo. “Meu pai ficou louco, saiu atrás de mim de carro, mas não me encontrou.” Anos depois, ele escalou montanhas peruanas, desceu cachoeiras e viajou de carona pela Europa e pelo Oriente Médio, só parando ao atingir a fronteira iraquiana. Todas as suas aventuras até então eram na raça, sem dinheiro. Depois da dureza, finalmente Fiúza arrumou patrocínio para pagar o combustível e a hospedagem em albergues nas Américas.
Seus projetos não param. Em 2004, ele pretende fazer outra viagem de moto. Desta vez, o trajeto começa no Egito e termina na fronteira da Índia. “É um percurso menor, mas pode ser mais perigoso.” O que a namorada diz de tudo isso? “Ela já está acostumada”, comenta o aventureiro, entre risos.