O sinal amarelo está aceso no quartel-general de segurança da Copa do Mundo 2006. O primeiro desafio é neutralizar as ações de um inimigo conhecido: os hooligans, torcedores violentos e racistas, sobretudo ingleses, alemães e poloneses, que arrumam confusão e quebram o pau em jogos de seleções e clubes europeus. Uma série de restrições judiciais e medidas de inteligência, tomada em parceria com outros países, parecia ter tirado o Mundial da rota dos arruaceiros. Mas movimentos identificados nos últimos dias na Inglaterra e na Alemanha deram novo alerta. Por causa do histórico de pancadarias em estádios e ruas e até assassinatos, mais de mil baderneiros ingleses foram proibidos de deixar o País e obrigados a ir regularmente a um departamento de Justiça. Como muitos não visitam os juízes há um bom tempo, os investigadores foram a campo. Bingo. Muitos fujões não só reservaram passagens para a Alemanha como, ajudados por laranjas de ficha limpa, compraram ingressos para os jogos no mercado negro. Os cuidados foram intensificados nos últimos dias também na Alemanha. Os técnicos da polícia descobriram que parte dos dez mil torcedores violentos cadastrados no país conseguiu ingresso. E a outra parcela continua na batalha.

Na estratégia de vender um país tolerante, protegido
e refeito dos erros do passado, os alemães tiraram
do cofre um bilhão de euros (U$$ 2,6 bilhões) para
criar a maior e mais cara estrutura de segurança dedicada a um único evento desde o 11 de
setembro. Há dois inimigos principais: os
hooligans e o terrorismo internacional. Em relação
aos arruaceiros, as autoridades acreditam que, apesar da movimentação dos últimos dias, não haverá espaço para eles dentro dos estádios, pois serão vigiados de perto por milhares de policiais alemães. Além disso, esperam que a maioria dos ingressos comprados no mercado negro seja identificada e anulada pelo sistema de informática do Mundial. Os pontos mais delicados serão as ruas e os telões das praças públicas, com acesso gratuito. Algumas delas reunirão milhares de pessoas, entre elas imigrantes e turistas africanos, asiáticos e sul-americanos, alvos comuns da xenofobia dos hooligans. Por isso, o comitê organizador vai “importar” policiais de outros países europeus para encarar, olho no olho, os delinqüentes que conhecem. Dois mil e quinhentos torcedores, entre eles mil ingleses, foram proibidos de entrar na Alemanha no período do Mundial. As fichas de mais oito mil estão sendo estudadas.

Outras medidas simples, adotadas com sucesso na Copa das Confederações do ano passado, também na Alemanha, foram retomadas. Torcedores violentos estão sendo visitados pela polícia e oficialmente aconselhados a evitar os estádios. Se não acatarem o “conselho”, serão intimados a comparecer até três vezes por dia, durante a Copa, a um posto policial. Se ainda assim insistirem em rumar para os campos e praças, deverão ser presos preventivamente no período, por ordem da Justiça. Nos estádios, haverá juízes para julgar crimes logo depois que eles ocorrerem. “A chance de termos pancadaria nos estádios é pequena”, acredita o especialista em segurança da Federação Alemã de Futebol (DFB), Alfred Sengle. Mas ele faz um alerta: “Garantir 100 por cento de segurança é impossível.”

Na outra frente de combate, a das ações terroristas, a infra-estrutura é ainda mais pesada. O país que tem entre seus traumas recentes o 5 de setembro de 1972, o brutal assassinato de dois atletas israelenses por palestinos do grupo Setembro Negro na vila olímpica dos Jogos de Munique, não quer nem sonhar com algo parecido. Precavidos, convocaram sete mil militares especializados e receberam emprestados da Otan, a aliança militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos, alguns aviões radar Awacs para controlar o espaço aéreo. No período da Copa, vão suspender o Tratado de Schengen, assinado por 26 países europeus, que libera o controle de entrada nas fronteiras entre os signatários. O aparato contará até com um recurso lúdico. Preparado para localizar explosivos, agentes químicos e atitudes suspeitas num raio de 30 metros, Ofro, um pequeno robô especializado em segurança, estreará em Berlim durante o Mundial. “Seus sensores analisam o ar e detectam substâncias nocivas ao ser humano”, explicou Ulf Stremmel, diretor da empresa berlinense Robowatch Technologies, fabricante do “soldado”. Ofro pode ser simpático – mas o assunto é coisa séria.