Muito já se sabe do que acontece com o
corpo feminino a partir dos 40 anos. Menopausa, pele envelhecida, dificuldade de perder peso. Agora, chegou a vez de desvendar o homem a partir da quarta década de vida. É uma população considerável. Estima-se que só no Brasil sejam cerca de 26 milhões de indivíduos nessa faixa etária. Nunca a medicina dedicou tanta atenção a eles e, por isso, jamais tantas revelações foram obtidas. Uma das principais diz respeito à fertilidade dos quarentões e à constatação de que, sim, eles também têm um relógio biológico que impõe um limite na capacidade de gerar um filho sadio.

Alguns estudos já apontavam essa conclusão, mas uma pesquisa divulgada recentemente não só a confirma como vai além. De acordo com o trabalho, realizado pelo Instituto Nacional da França para Estudos Demográficos, o poder de fecundação masculina pode se reduzir após esse período: mulheres abaixo dos 30 anos têm 25% menos chances de engravidar se o parceiro tiver mais de 40 anos. E aquelas entre 35 e 37 anos possuem 50% menos possibilidades se o companheiro estiver nessa idade. Na opinião da coordenadora da pesquisa, Elise de la Rochebrochard, ainda há muito o que investigar sobre o fenômeno. Há, porém, algumas hipóteses. “Não sabemos se isso acontece por causa de modificações nas características dos espermatozóides ocorridas com a idade ou se é decorrente de uma diminuição da atividade sexual”, disse Elise a ISTOÉ.

Outra descoberta também mudou os conceitos sobre a fecundidade masculina. Trata-se da constatação de que homens depois dos 40 manifestam maior risco de gerar crianças com problemas. Indivíduos de 45 anos possuem 70% mais probabilidade de ter um filho com síndrome de Down, por exemplo, do que um de 30. O processo que aumenta o risco é semelhante ao que ocorre com a mulher. No caso feminino, a passagem do tempo leva ao envelhecimento do óvulo. Com o homem, é o espermatozóide que envelhece. “Antes achava-se que isso ocorria somente com as mulheres”, conta Edson Borges, especialista em medicina de reprodução assistida.

A medicina está dedicada ainda a buscar tratamentos para a andropausa, a chamada menopausa masculina. Novamente, há aqui uma comparação com o corpo da mulher. Nelas, após os 40 há uma diminuição na produção de estrógeno e progesterona, os hormônios das características femininas. Com eles, acontece uma redução na fabricação da testosterona, o hormônio das características masculinas. A queda é de 1% ao ano depois dos 40. Para uma parcela dos homens, esse declínio tem repercussões importantes, como redução da força e energia, prejuízo à função cognitiva e menos desejo e potência sexual.

Muitas alternativas têm sido pesquisadas para diminuir esses problemas. A opção clássica é a reposição de testosterona. Nessa área, a novidade é o lançamento no Brasil do Nebido, a primeira injeção do hormônio aplicada a cada três meses. As outras devem ser repetidas quinzenalmente. De acordo com o fabricante, o laboratório Schering, a liberação da substância é gradual, favorecendo a reposição sem flutuações de pico. No entanto, não há consenso sobre a reposição. Isso porque a estratégia tem riscos. Altas doses de testosterona podem levar à infertilidade e à fabricação excessiva das células vermelhas do sangue, complicação capaz de desencadear um acidente vascular cerebral. “Por isso, se a reposição for indicada, é preciso acompanhar regularmente o paciente”, orienta o urologista Aguinaldo Nardi, da Universidade de São Paulo.

Nas observações recentes sobre a saúde masculina, outro fato tem chamado a atenção: a fragilidade óssea. Embora a prevalência da osteoporose seja três vezes maior nas mulheres, a mortalidade associada a fraturas em pessoas idosas dobra na população masculina. Muito cuidado também tem sido dispensado ao pesadelo da impotência sexual. Esse é um dos principais motivos que levam os quarentões aos médicos, junto com o medo do câncer de próstata. No consultório do urologista Joaquim Claro, de São Paulo, o número de pacientes interessados em orientação contra os dois problemas triplicou. “A maioria vem para saber o que fazer para não correr risco”, conta. Em relação ao tumor, a estratégia é submeter-se a exames depois dos 40, como faz o arquiteto paulista Nelson de Moura, 47 anos. “Tenho história de tumor na família. Quero chegar bem aos 50 e ir além”, diz.

Quanto à disfunção erétil, ela pouco tem a ver com a idade. Grande parte dos casos resulta de fragilidades psicológicas que dificultam a ereção – e elas podem acontecer em qualquer tempo. O que se descobriu e que, aí sim, está associado ao envelhecimento é que homens com a saúde vascular debilitada têm maior chance de manifestar o distúrbio. Várias estratégias contra a impotência estão sendo pesquisadas para aumentar o leque de opções. Uma delas estuda a viabilidade do uso das células-tronco. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um trabalho em animais avalia se essas estruturas são capazes de restabelecer a ereção nos casos em que ela não ocorre por causa de limites físicos, como nervos lesionados. Por enquanto, os resultados são bons.

A ciência também está constatando que outra crise vem agravando a vida dos homens maduros. Nessa fase, tornou-se comum o questionamento sobre o que já se conseguiu. O profissional analisa a carreira para ver se ela está no rumo certo. Em casa é o momento em que os filhos começam a sair mais e ele reflete sobre o casamento e a família. “Às vezes, esses aspectos são determinantes para a depressão”, afirma o geriatra João Toniolo Neto, da Unifesp. É lógico que não é regra sucumbir à angústia ao reavaliar a vida. “Hoje tenho uma situação profissional estável e prezo a paz de espírito. Fazer atividade física funciona como terapia”, comenta o piloto potiguar Sérgio Esteves, 47 anos.

O lado positivo de tudo isso é que as queixas motivam não só mais estudos como também interesse maior dos médicos em entender as fragilidades masculinas. No ano passado, a Sociedade Brasileira de Urologia organizou um congresso sobre envelhecimento masculino. As inscrições se esgotaram devido à grande procura. Na própria Unifesp, os especialistas em geriatria desenvolveram cursos para urologistas para atualizar questões que consideram importantes em relação ao homem depois dos 40. Justamente a depressão, a osteoporose, a reposição hormonal e, claro, a disfunção erétil.

Há também preocupações de como manter
o vigor. Nas academias, está em alta o
consumo de suplementos para ganhar energia
e turbinar músculos. “Mas não existem estudos
que provem que as pessoas ganhem massa muscular”, afirma a nutricionista Cynthia Antonaccio, da consultoria Equilibrium. O exagero no consumo, inclusive, pode ser prejudicial. Quem abusa dos shakes ricos em proteínas, por exemplo, está ameaçado com a perda de massa óssea e a sobrecarga dos rins. Também é fácil encontrar malhadores que tomem comprimidos de aminoácidos na ânsia de ter corpo de super-herói. Não é o caso do assessor financeiro Renato Bandeira de Mello, 44 anos, de São Paulo. Ele recorre a aminoácidos e a um mix de carboidratos e proteínas quando treina para maratonas. Saudável, Mello diz que não liga para a estética. Teve alguma crise ao chegar aos 40 anos? “Não queria ficar velho, mas só porque tenho vontade de fazer as coisas. Não quero ouvir alguém me dizer que preciso parar com algo porque não tenho mais idade”, emenda. Como ele, muitos homens sentem o mesmo.