Palavras, palavras, e só palavras, infladas pela arrogância natural dos mandatários que decidem pouco, mas se convencem de que mandam muito – e querem impor com seu blablablá seu próprio convencimento ao mundo. Some-se a isso um certo desembaraço diante de microfones e cinegrafistas, embora o corte do terno e o alinhamento da gravata, sobretudo a altura do alfinete a prendê-la, tenham algumas vezes deixado a desejar para os padrões estéticos ingleses. Como uma falsa jóia em brilho e magnetismo pessoais, até que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, conseguiu sustentar-se bem desde que se mudou para o endereço de Downing Street nº 10, residência oficial e particular, e também local de trabalho, dos primeiros-ministros. Ele entrou na casa há nove anos. Agora a casa caiu: Blair amarga 26% de aprovação junto à população, o mais baixo índice de um chefe de governo britânico nos últimos 40 anos. Essa decepção se traduziu nas eleições distritais da semana passada em que seu blablablá foi boicotado: seu Partido Trabalhista ficou com 1.174 cadeiras, o Partido Conservador obteve 1.711.

À humilhante derrota sofrida nas eleições, Blair respondeu com uma drástica reforma no gabinete, classificada como “banho de sangue” pela mídia. Foram trocados importantes ministros, como os de Relações Exteriores, Defesa, Interior
e Educação. Manteve-se, no entanto, o ministro da Economia, Gordon Brown, apontado como o sucessor de Blair na liderança do Partido Trabalhista e, provavelmente, na chefia do governo. Ao se referir à reforma, Brown aposentou o primeiro-ministro: “Tony Blair já passou da data de vencimento.” Seu colega de Ministério Chris Huhne, que responde pela Pasta do Meio Ambiente, desafiou: “Qualquer reforma, para ser efetiva, deveria envolver a queda de Blair.” Há quem queira que ele marque a data de sua saída, como o líder conservador John
Cameron. “Quatro já me pediram isso, todos eles se foram e eu continuo aqui”, ironizou Blair com mais um blablablá. Mas se esquecendo de que, dessa vez, são seus próprios pares que querem a sua cabeça.