17/05/2006 - 10:00
Na quinta-feira 11, o tabuleiro de xadrez chamado PMDB recebeu lances arrojados. De Belo Horizonte, num só movimento, o ex-presidente Itamar Franco colocou em xeque os que querem manter a legenda num papel subserviente às determinações do governo federal. “Seria um suicídio político o PMDB não ter candidato próprio”, definiu Itamar, dando mostras de que chega à convenção partidária, no sábado 13, inteiramente disposto a se tornar o candidato oficial do partido. No Rio de Janeiro, ao mesmo tempo, o pré-candidato Anthony Garotinho suspendeu 11 dias de greve de fome para retornar à arena política. “A luta agora é no partido”, disse ele, quase sete quilos mais magro, porém disposto a se recuperar a tempo de oferecer sua candidatura à convenção. Em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, cacique máximo no maior colégio eleitoral do País, decidiu mobilizar suas bases para arrumar um puxador de votos nas eleições presidenciais. Todos esses movimentos serviram para animar os 726 convencionais do PMDB a refletir ainda mais seriamente sobre a oportunidade histórica que têm nas mãos. Pelo voto de cada um deles, o partido poderá resgatar sua história de lutas, da qual fazem parte a resistência à ditadura e a liderança da campanha das Diretas-já, ou sucumbir aos desígnios de sua pequena, entretanto influente, ala governista. É aí que estão os políticos que, em troca de influência no atual e no futuro governo, pretendem deixar o PMDB de fora das eleições presidenciais. Foram eles que marcaram a convenção para este sábado, planejando derrubar a tese da candidatura própria.
Enquanto os adeptos da candidatura própria avançavam em suas posições,
os governistas encaminhavam à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff,
uma longa lista com pedidos de nomeações federais. Levada à ministra pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, a relação, à qual ISTOÉ teve acesso, continha nada menos que 47 pedidos de cargos, dos quais 17 já atendidos, feitos por mais de uma dezena de políticos do partido. A resposta dos que querem concorrer à Presidência veio na forma do acordo entre os líderes Garotinho, Itamar
e Quércia, que pretendem levar o maior número possível de correligionários à convenção. Os diretórios de outros dois Estados, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, aderiram ao acordo. “Vamos todos votar pela candidatura própria”, anuncia o senador gaúcho Pedro Simon.
Na manhã de sexta-feira 12, nenhum dos lados era capaz de garantir a vitória no sábado. Pelos mapas de votação, quem vencesse, venceria apertado. As chances, assim, de a questão vir a ser dirimida pela Justiça eleitoral voltou a ganhar corpo. Isso deixaria a decisão sobre o candidato do partido – Garotinho, Itamar, Lula ou ninguém – para o próximo mês. No quadro atual, esta saída poderá ser interpretada como uma vitória dos adeptos da candidatura própria, que desejam uma convenção mais tardia, dando tempo aos pré-candidatos de ganharem mais pontos nas pesquisas de intenção de voto. A questão jurídica em jogo é se a vitória na convenção seria por maioria simples ou por dois terços dos votos. Na última convenção, foi aprovado que o partido teria um candidato próprio – e que para mudar essa decisão, só dois terços de uma nova convenção. É nessa tese que apostam Garotinho e Itamar. Há duas semanas, o Superior Tribunal de Justiça referendou essa tese. Ou seja, se perderem por pouco, ainda assim fica mantida a candidatura própria. Mas o grupo de Renan Calheiros e do senador José Sarney (PMDB-AP) entrou na quarta-feira 10 na Justiça com uma ação para tentar que prevaleça na convenção a maioria simples.
Havia, contudo, um acordo secreto em andamento, articulado por Orestes Quércia. A sua proposta era a de que, primeiro, se buscasse garantir a candidatura própria. Para isso, todos deveriam comparecer à convenção. Garantido isso, Garotinho e Itamar estabeleceriam um compromisso de apoio mútuo, pelo qual um seria o vice do outro. Para Itamar, que já foi presidente, nem pensar. Ou é candidato ou nada. Mas, dependendo do acordo, aceitaria apoiar Garotinho. Ao ser sondado, ainda no hospital ao final da sua greve de fome, Garotinho admitiu a possibilidade. “Desde que (o outro candidato) tenha a noção da necessidade de mudanças econômicas e sociais no País”, condicionou. O outro braço do acordo de Quércia vai rumo aos governadores. Ele tenta convencê-los a apoiar a candidatura própria e driblar as amarras da verticalização (que vincula as chapas estaduais às coligações nacionais) com alianças brancas, informais. Para isso, Itamar está em forma. E Garotinho retoma seu fôlego. Até a noite da quarta-feira 10, Garotinho ficou numa sala da sede do PMDB, na avenida Almirante Barroso, centro do Rio, onde podia ser visto através de uma vidraça. Na quarta, foi transferido para o hospital Quinta D’Or. O boletim médico indicava então que ele estava “desidratado (…), com períodos alternados de prostração, dores musculares (mialgia), cefaléia, cãibras e cansaço aos médios esforços”. Na sexta-feira 12, o quadro já era outro. Garotinho chegava animado à convenção.