Na sua estréia como diretor em Jogo fatal, de 1987, David Mamet já exibia a paixão por histórias de duplo sentido, envolvendo traições e mal-entendidos em quantidade suficiente para confundir ou aborrecer o espectador. Nove filmes depois, em O assalto (Heist, Estados Unidos, 2001) – cartaz nacional a partir da sexta-feira 9 – o dramaturgo americano, premiado com um Pulitzer, continua obcecado pelo assunto que já havia voltado a abordar em A trapaça (1997). Agora, Joe Moore (Gene Hackman) é um ladrão bem-sucedido, casado com a insinuante Fran (Rebecca Pidgeon). Seus parceiros são Bobby (Delroy Lindo) e Pincus (Rick Jay). Pensando na aposentadoria que pretende gastar velejando no seu barco, Moore planeja um golpe milionário. Mas seu receptador, o sinuoso Bergman (Danny DeVito), tem outras idéias, inclusive empurrar o sobrinho, o traiçoeiro Jimmy Silk (Sam Rockwell), para o bando de Moore.

Com tantas cartas na manga, não é preciso ser mágico para embaralhar tudo e sair com algum jogo. E Mamet sai com vários deles, só que cada um mais inverossímil que o outro. De qualquer forma, assistir Hackman, DeVito e Lindo em ação é um prazer renovado a cada tomada. O mesmo vale para Rebecca, a senhora Mamet na vida real, sempre aparentando dizer uma coisa e falando outra, o que faz dela a vigarista ideal nas telas. Duro mesmo é aguentar a indefinição de Sam Rockwell ao compor seu personagem, sem saber se está bancando o durão ou apelando para o caricatural, situação semelhante à enfrentada pelo diretor.