Se São Paulo não é mais a mesma, muito menos o bairro da Vila Madalena. Ela mudou e muito, constata Gustavo (Eduardo Tornaghi), um homem que retorna ao Brasil depois de um auto-exílio de 20 anos em Paris. Outrora romântico e boêmio, o local se transformou numa confusão de carros e alto-falantes vociferando no volume máximo. O que esperar, então, das pessoas que conheceu? Este panorama de doença nostálgica integra O príncipe (Brasil, 2002) – em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro na sexta-feira 9 –, sexto longa-metragem do cineasta Ugo Giorgetti, que embarca numa viagem próxima a do colega Carlos Reichenbach, notadamente em Alma corsária e Dois córregos. Ou seja, a vida vista no espelho, o passado de militância, os amores perdidos, tudo sublinhado por referências literárias. Seguindo esta linha, o herói de Giorgetti se apresenta como “o príncipe da náusea”, unindo Maquiavel a Sartre para obter o efeito de decepção desejado. Decepção diante da existência e do destino reservado aos amigos e às pessoas mais próximas. Entre elas, Renato (Otávio Augusto), hoje um cínico jornalista; Marino (Ewerton de Castro), transformado num bajulador carreirista, travestido de agitador cultural; Aron (Elias Andreato), um poço de ressentimento; e o sobrinho Mário (Ricardo Blat), mergulhado na loucura.

Nem mesmo o encontro com a musa Maria Cristina (Bruna
Lombardi) permite qualquer alívio ou resposta. Afinal, ele não tem
mais o que perguntar.

“Chega um momento na vida de qualquer pessoa com um mínimo de informação que ela sente que tudo saiu errado”, constatou Giorgetti a ISTOÉ. O painel de amargura só poderia ser suportável nas mãos de um artesão hábil como Giorgetti. Ao contrário de Reichenbach, verdadeiro fotógrafo da marginalidade social, o diretor de Sábado se move com facilidade na classe média pretensiosa. A platéia chega a gargalhar diante de situações que seriam deprimentes se mostradas de outra forma.