24/04/2002 - 10:00
Uma zebra amarela anda passeando pela Copa do Brasil sob o comando de um dublê de político, que trocou as manchetes policiais pelas esportivas. Há menos de dois anos, o senador cassado Luiz Estevão de Oliveira, que perdeu o mandato por seu envolvimento no desvio de R$ 169 milhões da obra inacabada do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, comprou um time inativo da segunda divisão do Campeonato Brasiliense e acertou uma parceria com o Flamengo para receber jogadores preteridos pelo clube carioca, como Lê, Evandro e Jackson. Dono de uma das maiores fortunas do Distrito Federal, o sócio, presidente e fundador do time rebatizou o Atlântida como Brasiliense e arrendou e reformou, a um custo de R$ 600 mil, o estádio Serejão – agora chamado de Arena Brasiliense –, com capacidade para 35 mil pessoas. Carioca e torcedor do Fluminense, enquanto tentava se livrar dos inúmeros pedidos de prisão preventiva, Estevão foi montando o seu time. Quase 24 meses depois, a briga com a Justiça continua a mesma, mas o Brasiliense, quanta diferença.
Depois de passar pelo Vasco do Acre, Náutico e Confiança (de Sergipe), o Brasiliense finalmente foi notado ao derrotar o Fluminense, vencendo duas vezes por 1 x 0 o time do Rio de Janeiro, em Brasília e no Maracanã. Com menos de dois anos de existência, derrubou o time que este ano comemora seu centenário. A motivação extra foi providenciada por Luiz Estevão, que teria oferecido pela vitória um bicho digno de Copa do Mundo: um carro zero-quilômetro para cada jogador. O cartola, dono de uma concessionária de automóveis, desconversa, mas admite que os prêmios altos são a chave do sucesso. Num clube sem patrocínio, a não ser do próprio dono, Luiz Estevão já distribuiu neste campeonato R$ 530 mil em bichos. Cada jogador já recebeu, pelos quatro jogos, R$ 14 mil. Nas semifinais da Copa do Brasil, mesmo estando na terceira divisão do Campeonato Brasileiro, o Brasiliense já superou a campanha do Gama, outra zebra local de plantão, que no Brasileirão 2000 andou vencendo times tradicionais como Palmeiras, São Paulo, Grêmio e Internacional.
Luiz Estevão diz que tem o futebol no sangue. Vai a todos os jogos e até nos treinos do Brasiliense. Contrata pessoalmente todos os jogadores, paga os salários em dia – uma folha que soma R$ 126 mil, metade do salário de Roger, maior craque do Fluminense – e sonha em colocar no mapa do futebol brasileiro a capital Brasília. “Com a perda do mandato, sobrou tempo. Decidi investir numa coisa que sempre quis fazer: fundar um time de futebol. Eu estava abatido e queria preencher meu emocional e meu tempo. E deu certo. O futebol tem sido uma grande distração para mim”, resume o ex-senador, que criou seu time 32 dias depois de ser cassado. A próxima vítima, acreditam os torcedores da “Febre Amarela”, será o Atlético Mineiro, no dia 24 de abril, no Mineirão. Quem conhece o ex-senador não duvida de mais nada. Nem que ele um dia chegue à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).