05/03/2003 - 10:00
O inglês Robert Swan é conhecido como o primeiro ambientalista a caminhar nos pólos Norte e Sul. Até hoje enfrenta uma sequela da exposição ao buraco da camada de ozônio no Sul, em 1986. A queimadura na pele se reconstituiu, mas os olhos azul-marinho ficaram da cor do mar do Caribe. Aos 46 anos, Swan testemunhou como poucos o crescimento dos problemas ambientais do planeta. “O clima mudou nos últimos dez anos. As calotas polares estão derretendo”, denuncia. Depois de participar como convidado da Organização das Nações Unidas (ONU) nas cúpulas mundiais Rio-92, no Rio de Janeiro, e Rio +10, que ocorreu no ano passado em Johannesburgo, Swan se lança a uma nobre missão: navegar pela África para conscientizar os jovens na luta contra a Aids. “Queremos que os 30 milhões de infectados não se multipliquem”, explica.
Sua militância começou no ano passado, quando Swan esteve na África do Sul e conheceu a então pequena ONG LongLife. Logo ele percebeu que seria inútil convencer os interlocutores a usar camisinha ou a se privar de sexo. “Nós os convidamos a amar a si mesmos e à vida”, revela. O trabalho culminou com a regata Cidade do Cabo–Rio, que desembarcou no início de fevereiro, no Rio, onde 17 sul-africanos conheceram comunidades carentes cariocas.
O tato de Swan para lidar com a juventude operou milagres. Em
1996, ele organizou a Missão Antártica, com 35 jovens de 25 nações, incluindo o Brasil. A árdua tarefa era remover mil toneladas de lixo
da base russa de Bellingshausen. “A União Soviética construiu a base para ter mais poder. Depois o dinheiro acabou e eles deixaram tudo
para trás”, conta. O trabalho levou sete anos porque só se podia trabalhar nos três meses em que a luz do dia e a temperatura permitiam. Agora Swan dá partida a uma nova viagem ao continente gelado, acompanhado de 60 pessoas. “Vamos criar um sistema de gestão
de resíduos na mesma base russa”, antecipa.
Cabelos cortados em estilo militar, gestos vigorosos e corpo musculoso, Swan mistura aparência bruta com um currículo recheado de sensibilidade. Graduou-se em história, mas formou-se em aventura.
Na viagem ao Pólo Sul, em 1986, durante um ano ele seguiu os passos
do explorador inglês Robert Scott, que morreu em 1912. Foi de navio
ao ponto mais extremo e, com quatro aventureiros, caminhou até a calota polar. A exemplo de Scott, eles não levaram sequer um rádio
para auxiliar em sua localização.
Em 1988, um ano antes de chegar ao Pólo Norte, Swan foi condecorado pela rainha Elizabeth II com a Medalha Polar e em 1994 assumiu a direção da divisão da ONU para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Swan é do tipo que põe a mão na massa. Um exemplo de seu trabalho na luta contra a Aids: sem recorrer a mensagens negativas, ele levou um grupo de jovens à Antártica e mostrou que, para sobreviver ao frio, era preciso usar roupas especiais. Assim como a Aids, que se pode evitar usando a devida proteção.