Que o senador José Serra (PSDB-SP) está longe de comer buchada de bode ou tomar uma “branquinha” num boteco na luta por votos não é segredo. Mas, para surpresa de muitos, a sisuda postura do candidato tucano, em vez de atrapalhar, está conquistando pontos preciosos dos eleitores. Pelo menos, entre os que moram no Estado de São Paulo – como revela a última pesquisa da ISTOÉ/Toledo & Associados, realizada entre os dias 23 e 27 de março. De acordo com o levantamento, Serra não só é líder entre os paulistas, como sua vantagem à frente do segundo colocado, Lula (PT), está em sete pontos percentuais (leia quadro). Foram entrevistados 1.508 eleitores, na capital e em outras 55 cidades do Estado. A margem de erro é de 2,3% para mais ou para menos.

Serra tem maioria em quase todas as cidades, com exceção de Barretos e Sorocaba, onde perde por quatro pontos, em média, e em Araraquara, onde empata com Lula. Dos três municípios, só o último tem administração petista. O tucano também obteve grande destaque na preferência do eleitorado que tem mais de 40 anos, pós-graduação ou curso superior. Já Lula lidera entre os com menos de 29 anos, sobretudo entre a garotada que vai votar pela primeira vez – faixa dos 16 aos 18 anos. “O jovem vê nele a possibilidade de uma mudança no País”, explica o sociólogo Francisco José de Toledo, diretor-geral da Toledo & Associados.

Mulheres – É notável ainda a preferência feminina pelo candidato tucano, o que – na avaliação de Toledo – se justificaria pelo fato de as mulheres se preocuparem mais com a área da saúde do que os homens. “Lula também é visto por elas como uma ameaça às estruturas nacionais”, acredita o diretor. A pesquisa também procurou medir o índice de rejeição dos candidatos. Em cerca de 30% das respostas, Lula aparece como a opção que os eleitores não fariam “de jeito nenhum”. Ele chega a estar à frente de Enéas (Prona), com 22%, e de Roseana Sarney (PFL), com 17,7%. Na avaliação de Toledo, Lula está perdendo votos por conta do convite ao senador José Alencar (PL-MG) para ser vice na chapa petista. Já a disparada repentina de Serra seria explicada pelo perfil de “homem trabalhador” e por herdar boa parte dos votos de Roseana Sarney (PFL) e do governador Itamar Franco (PMDB-MG), que desistiu da disputa.

A preferência dos paulistas pelo candidato tucano, no entanto, tem uma explicação diferente na visão da cientista política Maria Vitória Benevides, professora na Universidade de São Paulo e integrante da comissão que elabora o programa de governo de Lula. “São Paulo é o Estado que no passado elegeu Collor e Maluf. O Serra é o que mais se aproxima dessa massa simpatizante da direita populista”, afirma.

Reviravolta – Os analistas são unânimes quanto à possibilidade de uma grande mudança no atual cenário. Toledo acredita na ida de Ciro Gomes (PPS) ao segundo turno com Serra, caso a aliança com o PDT e com o PTB seja confirmada. Na avaliação de Maria Vitória, o ex-governador cearense pode surpreender se a região Nordeste decidir “marchar unida”. Mas a disputa seria com Lula. O fato é que, a mais de seis meses da eleição, águas podem rolar se for considerada a grande parcela da população que não tem candidato escolhido. Segundo a Toledo & Associados, somente 15% das pessoas no Estado de São Paulo já fizeram sua escolha. E 18% delas admitem poder mudar de opinião até outubro.

Os especialistas citam a queda de Roseana como prova de que reviravoltas acontecem. A pesquisa mediu o impacto na opinião pública das notícias sobre as possíveis irregularidades envolvendo o marido da governadora maranhense, Jorge Murad. Nove em cada dez pessoas ouviram falar do caso Lunus. O percentual é maior entre as classes A e B. Desses eleitores, 34% haviam pensado em votar na candidata, mas desistiram. Toledo estima que o escândalo custou a Roseana uma perda de 8,16 milhões de votos. Boa parte dos eleitores não acreditou ou acreditou em parte na defesa do marido da governadora – cerca de 90% do total de entrevistados. “Roseana se manteve na liderança à custa de muita propaganda e num período de bastante indecisão do eleitorado. Jamais aguentaria”, conclui Toledo.